Tuesday, October 31, 2006

Por Uma Nova Educação

Educar deveria significar conduzir, guiar, ao invés de impor, inculcar; muito mais amplo do que definir, colocar limites. Não é conveniente encarcerar conceitos em definições estáticas e transmiti-los friamente aos educandos como coisas mortas, folhas murchas com as quais se marca as páginas da própria história.
Um novo método pedagógico deveria orientar e guiar os jovens através de um caminho que os conduzisse para encontrar dentro de si as suas capacidades e desenvolvê-las. Tudo o que é imposto é frio, dogmático, sem vida. Tudo o que é proposto, sugerido, com o intuito de guiar a reflexão e a inteligência do educando para que chegue, por própria conta, aos conhecimentos e às mudanças que devem operar-se no indivíduo, traz a vida e a alegria que a Natureza nos ensina em sua constante transformação.
Enclausurar Deus, por exemplo, numa definição, resultaria pequeno, muito pequeno; não basta senti-lo, mas aproximar-se dele através do conhecimento do que nos cerca e, especialmente, do que somos e podemos chegar a ser.
“A Sabedoria de Deus está plasmada na Criação, enquanto que a do homem consiste em conhecê-la e servir-se dela para superar as etapas evolutivas de seu gênero”, escreveu o pensador C. B. González Pecotche.
Não se trata de receber definições e enclausurá-las em frios compartimentos mentais, senão conhecer os conceitos e experimentá-los através da compensatória tarefa da transformação pessoal. E conclui o pensador que o homem busca o conhecimento “porque é o meio pelo qual chega a compreender a sua missão e a sentir a presença em sua vida deste ser imaterial que responde ao influxo da eterna Consciência Universal e é portador, através dos tempos, da existência individual.”
Portanto, o conhecimento move o homem para que se eleve, para que deixe de ser o que é para ser algo melhor; e é o grande agente criador das possibilidades humanas.
As frias definições afastam o ser humano da verdade, enquanto que o conhecimento amplia os horizontes aproximando o homem de si mesmo, de seus semelhantes e de Deus.
Uma nova Pedagogia requer a reeducação dos adultos que terão a seu cargo a instrução da humanidade do futuro. O que tem sido prática corrente na educação infantil deverá ser revisto, estudado novamente. Os sistemas de instrução e os conceitos básicos empregues não têm funcionado convenientemente. Instrui-se para tudo; menos para o que mais interessa: a convivência pacífica entre os seres humanos.
A humanidade está dividida em raças, religiões, camadas sociais, culturais, partidos políticos, etc. Os sistemas pedagógicos são divisionais, separatistas. Cada agrupamento arvora-se como dono absoluto da Verdade única. Não compreende que ela surge da união dos homens pela compreensão de sua realidade fragmentada da Grande Realidade Universal da qual todos formam parte.
Às crianças ensina-se, por exemplo, e equivocadamente, que devem ser as melhores em tudo o que fazem; melhores que as outras. Inocula-se assim, desde muito pequenas, o nocivo e maligno vírus do separatismo, de uma pseudo-superioridade; a ilusão da felicidade alcançada quando se chegar a ser mais e melhor do que os outros. O melhor da classe,no esporte, o melhor profissional, o mais admirado.
Na Pedagogia da Escola do Futuro, as crianças serão instruídas no sentido de serem melhores que elas mesmas; que o aperfeiçoamento pessoal tenha um cunho essencialmente humanista: ser melhor sendo mais útil para si mesmo e para os semelhantes; para conviver harmonicamente com.
O amor ao próximo deixará de ser uma figura de retórica para representar a compreensão cabal de um fragmento da Grande Verdade e, como tal, será vivenciado, experimentado, e não apenas discursado e propalado.
Sem o entendimento não há compreensão. Sem compreensão não há realização. Sem realização, os seres humanos seguirão inimigos de si mesmos; filhos deserdados de um Criador que não chegaram a compreender.
Muitos educadores preferem a verdade à fantasia na orientação da infância e da adolescência. Compreendem que de tanto ouvir e transmitir fantasias e coisas irreais, a vida pode se transformar numa grande mentira.
Alguém diria a uma criança que a Terra não se move e que é o centro do Universo? Ou que os trovões existem porque os deuses estão empurrando móveis no Olimpo?
Na infância da humanidade os homens acreditavam nessas e noutras fantasias por ignorância, falta de conhecimento. Galileu Galilei, o grande cientista italiano, quase foi queimado na fogueira por sustentar que a Terra não era o centro do Universo. Salvou-se porque abjurou, negou a verdade que havia vislumbrado para não ser condenado.
Infelizmente, a grande maioria dos educadores acha louvável a fantasia, a ilusão e o irreal nas histórias que transmitem às crianças: animais que falam, super-heróis que voam, desenhos animados que deseducam e transmitem a violência às crianças que depois, quando adultas, não entendem o porquê das crueldades e da violência que imperam no mundo.
A criança cria suas fantasias porque em sua inteligência incipiente só funcionam a memória e a imaginação e seu entendimento ainda não despertou para que compreenda o mundo com suas belezas e maldades criadas pelo homem. Não é necessário que os adultos lhe venham acrescentar ilusões e mentiras que nada têm a ver com a realidade, e sim que a protejam de certas realidades cruéis deste mundo que não suportaria defrontar por não estar preparada para entender.
Conta-se que havia um pai muito cruel, de péssimo caráter, e que a zelosa mãe não deixava que seus pequenos filhos soubessem dessa realidade. Quando falava dele para os meninos, nunca deixava transparecer aquela realidade por compreender que eles deveriam crescer para poder, por própria conta, ter a capacidade de julgar o pai.
Proteger o entendimento e a sensibilidade de uma criança faz parte de uma docência positiva que afasta a criança do sofrimento pelo choque prematuro com a realidade. Da mesma forma, o seu entendimento deve ser preservado da mentira, do irreal e da ficção para que possa despertar, no futuro, livre de preconceitos, temores e da depressão.
Educar para a vida é muito mais do que dar escola gratuita e ensino fundamental; é preparar os entendimentos para que despertem do sono milenar que tem submergido a humanidade na inércia mental e prostrados os espíritos nos cárceres da ignorância.

Nagib Anderáos Neto
neto.nagib@gmail.com
www.twitter.com/anderaosnagib

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De Sócrates a Spinoza

Para Spinoza, Deus é razão (Logos), como também coração e amor; é a fusão da suprema razão e do supremo amor. Com uma visão filosófica prática, objetiva, experimental, ele difundiu que é importante que a verdade seja experimentada e não somente estudada, pois nessa verdade experimentada surge a compreensão do amor – experiência pura – distante dos raciocínios e dos esquadrinhamentos intelectuais.
Estudar teorias e acreditar em dogmas nada tem a ver com a visão objetiva de Spinoza.
As tradições de qualquer espécie contrariam a evolução; o teorizar e o acreditar congelam-se numa imobilidade temporal e assemelham-se à rigidez cadavérica daquilo que deixou de viver.
Na ética de Spinoza encontramos a questão da liberdade ou do livre arbítrio como algo a ser conquistado. Liberdade e responsabilidade encontram ali gritante interdependência: quanto mais livre é um ser, mais responsável ele é. E essa liberdade estaria ligada ao grau de consciência, de conhecimento, de responsabilidade e existiria, em pequeno, no homem, por conter esse ser, em sua essência, a pequena chama da Consciência Universal. Em sua essência, o homem é livre. E por mais que queira estar totalmente afastado ou totalmente aproximado de Deus, não o consegue, pois não pode negar o que faz parte dele e nem aceitar, passivamente, o que não conhece. Em outras palavras, a crença e o ateísmo são pólos que se tocam na negação absoluta de Deus que o próprio crente, num caso ou no outro, não consegue compreender.
Existe um paralelismo gritante entre o pensamento de Spinoza e o de Sócrates, apesar do abismo intelectual e espiritual no qual se submergiu a humanidade nos séculos que os separaram.
Sócrates dizia que o homem não era o visível, o compacto, o tocável, senão o invisível, o da essência. Afirmava que todo o ser humano tinha em seu interior tudo para crescer, para se desenvolver. E que ele deveria conhecer primeiro a si mesmo, e depois as coisas que o cercam; que o princípio da sabedoria consistiria no reconhecimento da própria ignorância.
Sócrates, como Spinoza, foi condenado pelo poder político local, que não diferia do religioso, como no caso do pensador de Amsterdã, por opor-se ás idéias dos dirigentes, por não cultuar as suas personalidades e nem as divindades do Estado, por ser um opositor das autoridades constituídas.
Apesar de ter a oportunidade de fugir, estratagema de um amigo que lhe preveniu sobre a morte iminente, não o fez “Sócrates é imortal. Podem matar o invólucro de Sócrates, mas Sócrates é imortal”. E enfrentou a morte com serenidade. Possivelmente tenha compreendido que a verdadeira morte fosse o não pensar, a submissão aos pensamentos já pensados por outras pessoas e à cruel ditadura dos mercadores da verdade.
Para Spinoza, a verdadeira salvação consistiria no conhecimento, que é oposto ao fenomênico e ao sobrenatural que forjam a base do ateísmo.
Não pode haver um Deus ou um conhecimento propriedades de algum agrupamento previamente eleito ou escolhido, porque Deus e o conhecimento não são contingentes e nem privilégios de ninguém, por serem imanentes. E se Deus é também a Natureza e se manifesta através de nossa mente, todo conhecimento, qualquer que seja a sua hierarquia, tem a ver com Deus, que não é e não pode ser pessoal, personalizado, e é muito mais, muito maior, que sua própria criação.
Voltando às digressões iniciais de Spinoza, como, então, experimentar a verdade, e não somente esquadrinhá-la como vimos fazendo nos parágrafos anteriores? Como, então, fugir da cega fé que, no dizer de Nietzche, é sacrifício de toda a liberdade, de toda independência de espírito?
Para experimentar a realidade de ser, de existir, seria necessário experimentar a realidade da própria transformação psicológica, partindo do básico, que é o conhecimento dos pensamentos que habitam nossa mente e movem as nossas atitudes, a sociedade e todo o mundo. Seria necessário reverter o autoritarismo do império dos pensamentos que nos governam, apesar de imaginarmos que somos donos de nossa própria vida. Esta seria a verdadeira alavanca de Arquimedes.
“Apesar de filósofos e sábios haverem exercido, tanto na antiguidade como nas idades moderna e contemporânea, a faculdade de pensar, nenhum deles atribuiu jamais vida própria aos pensamentos, nem declinou que pudessem reproduzir-se nem ter atividades dependentes e independentes da vontade do homem.”
Com essas palavras, o pensador Gonzalez Pecotche enfeixa e resume a dramática questão que nos atormenta há tanto tempo: como sair do labirinto que criamos e experimentar, de fato, a realidade de ser e de existir?
Como Sócrates, continuamos perambulando pelas ruas a nos perguntar, e aos nossos concidadãos, sobre a liberdade e seu significado.
Talvez agora, depois de tanto tempo, possamos esboçar uma resposta. Talvez agora.

Nagib Anderáos Neto
www.nagibanderaos.com.br
andergatti@terra.com.br

Os Livros e a Evolução Humana

Cada livro lido é uma aventura ímpar. Um livro é mil livros. Para o leitor, uma releitura será uma escritura diferente; ele cria com o escritor em função do que tem na mente, do que está vivendo, da época em que se encontre.

Qual a mágica da leitura? Que profundo mistério envolve a literatura para a qual tantos são atraídos? Seria apenas um prazer da solidão? Um exercício da reflexão? O que ocorre de fato conosco ao ler um bom livro?

Vem-me à recordação o Don Silencioso de Mikail Sholokov, odisséia de uma família russa com a qual tomei contato na adolescência; três volumes que encheram algumas semanas de minha vida de expectativa e emoção. O que aconteceu com aquele adolescente que se viu transportado para as estepes russas num salto para o passado, percorrendo com os cossacos as planícies geladas numa epopéia histórica de séculos?

Qual mistério envolve a boa leitura? Seria uma fuga, um alheamento da vida e dos problemas?

Deve haver algo profundo neste ato. Talvez ali o nosso mundo interior conecte-se ao do escritor; talvez vislumbremos um outro mundo que transcenda o dia-a-dia rotineiro que nos envolve; o prazer da leitura confundindo-se com o de viver e a literatura transfundindo-se com uma forma de fazer o bem. Então deveríamos ler o que há de bom na literatura para confirmar a prédica que diz vivermos sob a luz de um sol invisível e mágico que brilha dentro de nós.

Há certas leituras que se gravam espontaneamente na memória. Há muito tempo li um poema de Baudelaire e alguns versos ficaram gravados. Muitas vezes, caminhando por alamedas ensolaradas,eles vinham à mente como se outra pessoa os tivesse pronunciado: “A natureza é um templo onde pilares viventes murmuram palavras confusas. O homem atravessa-a em meio a uma floresta de símbolos que o contemplam com olhares familiares.” Esta interpenetração entre o físico e o metafísico, onde o único e verdadeiro templo mostra-se ao ser humano como um grande livro, celeiro de conhecimentos sem-fim, pôde ser captada pela sensibilidade do poeta atravessando o tempo através de poucas palavras. Eis aí o mistério da poesia, a jóia da literatura.

É possível que leiamos para nos encontrar; que este seja o sentido oculto da leitura. E que nos encontremos numa passagem, num pensamento, numa personagem, numa metáfora.

Lembro-me que o pensador e escritor González Pecotche, ao ser perguntado sobre o que seria da cultura se todos os livros fossem destruídos, respondeu que tudo poderia ser reescrito através da observação do que existe na natureza, livro maior que contem a sabedoria universal.

A natureza é o único templo em cujos pilares viventes poderemos sempre extrair ensinamentos para nos orientar. E nesta outra floresta de símbolos e metáforas que são os livros, criações humanas, poderemos nos perder ou nos orientar seguindo o caminho invisível do sol que brilha em nossos corações.

Conheci um jovem que de uma leitura mudou a orientação da sua vida; começou a viver uma nova, a escrever e ler o seu livro movido pela vontade e inspiração pessoal.

Por detrás das palavras escritas estão os pensamentos do autor que, caso os tenha criado, vive neles. E se estes pensamentos têm a virtude de orientar o leitor, ajudando-o a compreender melhor a sua vida, então o escritor que vive em sua obra é credor de nossa maior gratidão.

NAGIB ANDERÁOS NETO

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Liberdade Pelo Pensamento

É possível que o temor da morte provenha do fato de se pensar que tudo termina com a vida.
A morte verdadeira é o não pensar, uma tirania que aprisiona a inteligência, uma escravidão mental.
Como sentir a eternidade dentro de si?
Não estamos morrendo todas as noites para despertar no dia seguinte?
Na Comédia de Dante, diz o poeta: “O pior dos suplícios é sentir-se morto sem acabar de morrer, é sentir-se quase vivo estando morto, e ansiando morrer, seguir vivendo”.
A morte tem a ver com a falta de estímulos, de interesse e esperança pelo futuro.
O essencial é a atividade, o movimento, o equilíbrio. É necessário abandonar a inércia e a desesperança, construir um novo futuro e um passado, ressurgir das cinzas como o pássaro imortal, uma verdadeira ressurreição que a lenda de Lázaro não pôde explicar.
Por que o espírito humano busca o conhecimento e o aperfeiçoamento? Por que busca o acercamento com Deus?
A liberdade do homem é construída sobre o pensar. Quanto mais pensar, mais livre será. Mas o que é pensar? A movimentação discricionária de pensamentos na mente seria pensar? Não, isso não é criar soluções luminosas, optar por caminhos, selecionar o que convém para o bem e felicidade próprios e alheios.
Ao pensar, opomo-nos à fatalidade e liberamo-nos do destino comum, da vida comum, da mediocridade.Trata-se de opor à fatalidade um destino próprio, construído pela pessoa, que será viável através do conhecimento, do domínio dos pensamentos.
Qualquer obstáculo pode ser transformado em instrumento de aperfeiçoamento pessoal através da utilização da inteligência. Um defeito pessoal que nos incomoda poderá mover-nos para combatê-lo, extirpá-lo, para mudar. E mudando poderemos ir construindo um novo futuro, um novo destino. Nenhuma idéia diferente ou oposta à do aperfeiçoamento poderá nos impulsionar para a construção de uma vida mais ampla e feliz.
Um dos preceitos gravados no Templo de Delfos era o “Conhece a ti Mesmo”. Platão diz através de Sócrates - personagem de um de seus escritos -: “Parece-me ridículo, pois, não possuindo eu ainda esse conhecimento, que me ponha a examinar coisas que não me dizem respeito... Não são as fábulas que investigo; é a mim mesmo”.
Esse conhecimento implica conhecer os defeitos pessoais. É muito comum censurarmos os dos outros. Ao evitar, em nós, os que censuramos, estaríamos realizando uma pequena parte daquele Conhecimento inscrito no Templo grego.
Assim como a fome e a sede são sinais de nosso organismo indicando que precisamos nos alimentar, nossos defeitos são sinais que nosso organismo psicológico nos dá indicando que devemos mudar. E o nome dessas mudanças é “educação espiritual”; construção de uma nova conduta que deverá nos ocupar diariamente, da mesma forma como dormimos e nos alimentamos, para não cair na inanição mental, na indigência espiritual.
Para González Pecothe, o criador da Logosofia, “o quadro das deficiências que a criatura humana apresenta, desde que nasce até o final de seus dias, poderia parecer desalentador. Todavia, isso não deve abater o seu ânimo, porquanto é preferível conhecer que inimigos temos dentro, para combatê-los com lucidez mental, a ignorá-los, enquanto ficamos à mercê de sua influência despótica, suportando docilmente a maioria dos desgostos e depressões que diariamente ocasionam”.

Nagib Anderáos Neto

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Reminiscência de São Carlos do Pinhal

Sob o título “Aprendendo a Ver o Invisível” proferi palestras públicas em várias sedes da Fundação Logosófica, como as de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Santos, Florianópolis e Brasília.
Era para expor aspectos sobre a Logosofia, criação de Carlos Bernardo González Pecotche, por ele definida como a “especialidade científica e metodológica que se ocupa da reativação consciente do indivíduo”, também tida como a “ciência do invisível” por conter todo o princípio metodológico que ensina o ser a conhecer a vida e a atividade dos pensamentos, dos sistemas mental, sensível e instintivo, que são invisíveis.
Planejei expor, a certa altura, uma passagem de minha vida inspirada no diálogo nº 44 do livro “Diálogos”, de autoria do criador da Logosofia sob o título “O ser que todos temos esquecido, em quem ninguém pensa apesar de constituir algo essencial para nossa vida”.
Para expor uma parte do invisível que é referido nesse diálogo, recorri a um episódio de minha vida quando iniciava o período da adolescência.
Quando tinha onze anos, para então seguir o chamado curso ginasial, fui estudar no Ginásio Municipal da cidade de São Carlos, hoje chamado Diocesano, cidade que o bispo Dom Gastão Liberal Pinto dizia situar-se no coração do Estado de São Paulo.
Ali cumpri o curso em regime de internato; vivia o tempo todo no interior do ginásio, de manhã à noite, estudando, praticando esportes e convivendo com dezenas de outros colegas, com direito a passear pela cidade aos domingos e as férias nas casas das cidades de onde provínhamos.
Dentre tantos colegas, referi-me a um em especial, Huascar, com quem convivi de 1941 a 1947, desde os onze até os quinze anos de idade.
Em dezembro de 1947, então formados no curso ginasial, de cuja turma tive a honra de ser orador e da qual foi paraninfo Luiz Augusto de Oliveira, “o Luizão”, que hoje leva seu nome na estrada que sai de São Carlos , encontrávamos-nos na porta do majestoso edifício do ginásio para despedir-nos dos colegas que dali em diante passariam a viver nas cidades de origem.
Naquela época usávamos calças curtas e também gravatas.
Eu estava com uma gravata azul, reluzente, feita de fibra sintética criada após a recém-encerrada 2a. Guerra mundial. Havia sido presenteada por um querido parente.
Quando o Huascar foi se despedir de mim, disse-me: “Eu gostaria de levar essa gravata como lembrança”.
E eu, que gostava tanto daquela gravata, respondi: “Esta não. É a que mais gosto. Vou abrir a mala que está aqui e você pode escolher qualquer gravata para levar de lembrança”.
E ele me respondeu: “Não quero outra gravata. Se não posso levar essa, não quero qualquer outra”.
Assim nos despedimos, ele sem a gravata azul e eu com ela.
Muitos anos se passaram sem que nos tivéssemos visto ou conversado.
No curso desses anos, mudei-me para São Paulo, segui outros cursos, casei-me, tive filhos e, para onde ia vivendo, levava sempre comigo a tal gravata que não dei ao Huascar.
A gravata já havia saído de moda e eu não a usava mais.
Mas sempre me fazia recordar do Huascar. E pensava: “Porque não dei a gravata ele?“ Serve sim para recordar as tantas vivências juntos no ginásio interno em São Carlos.Mas, e ele sem ela?
Assim passaram-se trinta anos, quando em dezembro de 1977 fui convidado para uma festa de confraternização com os formandos da turma de 1947, nas dependências daquele mesmo ginásio.
Pensei: “Será que o Huascar também irá?” Reuni as fotografias da época, cartas, manuscritos e a tal gravata.
Pensava em entregá-la e dizer quanto ela me havia feito recordar dele e das tantas vivências da adolescência.
Quando lá cheguei, encontrei um colega que logo me reconheceu e perto dele havia outro que eu não consegui identificar.
Eu portava a gravata no bolso externo de meu paletó, sem embrulho. Queria entregá-la ao Huascar rapidamente.
E aquele colega que me identificou perguntou-me: ”Você sabe quem é esse que está ao meu lado?” Respondi: “Não”. Era difícil reconhecê-los depois de 30 anos, todos com aproximadamente 45, alguns já sem cabelo...
E ele me disse: “É o Huascar”.
Fiquei muito feliz com o encontro e nos abraçamos entusiasticamente.
Logo em seguida coloquei a mão no bolso para pegar a gravata, e antes que a tivesse retirado o Huascar me disse: ”Pois é Antonini, a última vez que nos vimos você ficou me devendo uma gravata”.
Fiquei atônito, perplexo. Parecia-me impossível que, depois de 30 anos, ele ainda se recordasse daquele episódio. Que eu recordasse era natural, pois a gravata esteve sempre comigo.
Saquei então a gravata do bolso do paletó e a entreguei dizendo: “Mas hoje eu a trouxe para você”.
Foi a vez dele de ficar perplexo e atônito, enquanto eu lhe dizia quanto aquela gravata me havia feito recordar dele durantes três décadas.
Cinco anos depois, comecei a estudar um livro publicado em 1952 chamado “Diálogos”, de autoria de González Pecotche, o criador da Logosofia.
Continha 53 diálogos, todos me encantando, um mais que o outro, quando me detive, de modo especial, nas reflexões que me proporcionavam o Diálogo 44.
Quando na palestra relatava o episódio da gravata, mencionei trechos desse Diálogo 44, como os seguintes:
“Existe um ser a quem todos, sem exceção, temos esquecido; se é recordado uma ou outra vez, tem sido em forma circunstancial, mas essa recordação fugaz não cumpre o que vou assinalar, razão pela qual me sinto movido a declarar seu geral esquecimento. Esse ser é a criança que cada um foi, aquela que brindou os melhores dias da existência e a quem, pode-se dizer, lhe devemos grande parte do que agora somos”.
“Aquele que pensa nessa criança e a contempla através de suas recordações, em seus brinquedos, em seus pensamentos, em suas inclinações e em sua inocência, verá quanto tem de aprender dela e quanto lhe deve; mais ainda: quanto deveria conservar daquele pequeno que hoje, grande em tamanho e em idade, seja-lhe permitido experimentar, pelo menos, algumas daquelas inocentes porém gratas sensações que brindaram a sua vida as melhores horas”.
“Seria bom se cada um recordasse esse menino, o que foi, o que morreu. Que o recorde muito, porque nessa recordação vai implícito o enlace da atual existência com a que foi, pois o esquecimento não somente destrói o vínculo que as une, senão também a própria sensibilidade”.
“Se esquecemos a nossa própria criança, aquela que morreu, cometemos com isso, talvez sem querer, um crime simbólico; morrerá também o jovem, e, sucessivamente, o que fomos ou temos sido em cada idade. Assim se irá esfumando no esquecimento e, sem sentir, morrerá em nós, lentamente, toda nossa vida”.

José Antonio Antonini
Advogado, escritor, editor.
( 1932 – 2006 )

A Observação Consciente

É difícil julgar as outras pessoas sem antes haver aprendido a exercer o juízo sobre si mesmo.Julga-se, em geral, em função de apreciações alheias, pelo o que se ouviu dizer, e não pelo que realmente se observou. A observação consciente – conforme nos esclarece o pensador González Pecotche em inúmeros escritos e conferências – deveria servir, antes de tudo, para corrigir as nossas imperfeições; o que vemos de desagradável na conduta de uma outra pessoa deveria levar-nos a verificar se não existe em nós aquela característica negativa que compõe a nossa personalidade.Mas o ser humano não sabe olhar para si; olha o mundo como se não fizesse parte dele; vê, mas não enxerga; não entende que todo aquele cenário está aí para transformá-lo em diretor e ator do espetáculo de sua vida. Ao invés disto, gasta seu tempo olhando, admirando ou criticando o espetáculo de outras vidas, outros mundos, esquecendo-se de si, e que dentro dele existe um pequeno universo no qual poderia viver e ser feliz.

Essa falha gritante das culturas que nos precederam –com raras e honrosas exceções – engendrou nas mentes humanas a tendência ao escapismo,a viver somente fora de sua realidade interior. O ser humano está sempre a fugir de si: no trabalho, nas diversões, no estudo, nas leituras, nas platéias; não consegue conectar o que acontece à sua volta com a realidade interior. Olhar a Natureza e tomar para si o exemplo de paciência, movimento, renovação, evolução, e exercitá-lo no diário existir através de sua capacidade de pensar, criar e se modificar.

Vamo-nos transformando em atores que decoram e interpretam falas escritas por pessoas que nos antecederam, que desconhecemos, e que foram atores como nós, repetindo frases e cenas que compõem as tradições que – como disse certa vez González Pecotche – são o cemitério das idéias.

Romper com essa inércia cultural é o grande desafio da nova humanidade no despontar do terceiro milênio. Ao voltar-se para si e educar-se, o homem do futuro transformará o horroroso espetáculo de guerras, corrupção e violência no qual nos encontramos num cenário mais condizente com a espécie inteligente que um dia poderemos chegar a ser.

Ao dizer que tudo o que sabia era que nada sabia, Sócrates, a personagem de Platão, dá-nos a pauta de uma conduta inicial, caso queiramos aprender e evoluir. Será necessário arrancar a máscara da personalidade que nos leva a aparentar ser o que não somos, mas que imaginamos.Se ela não estiver aderida à epiderme psicológica, poderemos iniciar o caminho para construir a nossa individualidade.

Nagib Anderaós Neto

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Monday, October 30, 2006

González Pecotche - Um Mestre Evolucionário

Carlos Bernardo González Pecotche faleceu em quatro de Abril de 1963 deixando uma vasta obra bibliográfica e uma Escola de Adiantamento Mental com sedes na Argentina, Uruguai e Brasil.
A Logosofia-ciência original de sua criação-continuou a ser estudada nas diversas sedes da Fundação Logosófica em Prol da Superação Humana que conta hoje com diversas filiais na América, Europa e Oriente Médio.
O objetivo dessa nova ciência é o estudo do ser humano em sua configuração psicológica e espiritual. Para González Pecotche, viver deveria significar muito mais do que ser um mero espectador do teatro da vida; um repetidor de frases e gestos criados por outras pessoas. E para que se pudesse chegar à compreensão clara do significado da vida e seu conteúdo, seria necessário conhecer e exaltar o amor à própria vida, à existência. Não o egoísta, separatista, que distancia os seres humanos por interesses diversos, raças, ideologias ou religiões, mas o verdadeiro, o que exala cada criatura, cada gesto, cada amanhecer como um motivo de vida, alegria e verdade.
“A Sabedoria de Deus está plasmada na criação, enquanto que a do homem consiste em conhecê-la e servir-se dela para superar as etapas evolutivas de seu gênero”, escreveu o pensador. E conclui que “o homem busca o conhecimento porque é o meio pelo qual chega a compreender a sua missão e a sentir a presença em sua vida deste ser imaterial que responde ao influxo da eterna Consciência Universal e é portador, através dos tempos, da existência individual”.
Portanto, o conhecimento move o homem para que se eleve, para que deixe de ser o que é para ser algo melhor; e é o grande agente criador das possibilidades humanas.
Na certidão de óbito do ilustre pensador consta a profissão de escritor, autor de composições literárias ou científicas. No dizer do advogado José Antonio Antonini, estudante de Logosofia e editor que teve a oportunidade de conhecer pessoalmente González Pecotche, “aqui se sobressai uma dessas particularidades do escritor: ele é autor de composições, não somente de uma ou outra modalidade, senão de muitas, tanto literárias quanto científicas. E fazia-o valendo-se de formas literárias conhecidas, como o romance, o diálogo, a expositiva, a poesia, o tratado, etc, mas sempre vinculando tais formas ao gênero científico, visto ser o criador de uma ciência que denominou Logosofia, uma especialidade científica e metodológica que se ocupa da reativação consciente do indivíduo”.
“Também foi editor, ilustrador, pintor, músico e compositor. Sua partitura sobre Recordações Egípcias, ele a executava em uma rádio Argentina”.
“O que o distinguia da generalidade dos escritores era precisamente esta aptidão de incursionar em todos os matizes da composição literária, vinculando o leitor aos princípios metodológicos e científicos desta ciência da vida ou do invisível que se encontra em cada ser”.
“A vida do ser humano tem dois grandes objetivos: evoluir na direção da perfeição e tornar-se um verdadeiro servidor da humanidade”. Com essas palavras o pensador sintetizou o conteúdo da direção apontada por uma grande vontade que habita em todos os corações humanos e, tal qual uma lei, impulsiona-o para ascender às alturas inefáveis do conhecimento e da realização humanas.
Dentre as grandes lições deixadas pelo grande humanista, destaca-se a da gratidão ao bem recebido que nos permite mantê-lo em nossas mentes e corações como um talismã que haverá de substanciar os dias futuros e iluminar o caminho dos que virão trilhá-lo.
Através da gratidão e da recordação, o espírito daqueles que beneficiaram a humanidade em sua breve passagem pela terra haverá de sobreviver e prosseguir em seu silencioso e humanitário trabalho, invisível aos olhos de muitos, mas sólido e consistente sob a perspectiva da História.


Nagib Anderáos Neto

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Uma Cátedra Humanitária

No próximo dia quatro de Abril, estudantes de Logosofia de todo o mundo estarão se reunindo nas diversas sedes da Fundação Logosófica em prol da Superação Humana para recordar e homenagear o pensador e humanista Carlos Bernardo González Pecotche cujo desaparecimento físico marcou uma nova etapa no desenvolvimento da obra humanista e revolucionária por ele iniciada em mil novecentos e trinta na cidade de Córdoba, Argentina.

A presença marcante de seu espírito não haveria de esmaecer-se com o seu desaparecimento físico, pois os seus pensamentos estavam consubstanciados no grande movimento por ele iniciado do qual fazem parte todos os estudantes e pesquisadores, as escolas criadas, a vasta bibliografia, as centenas de conferências pronunciadas e, principalmente, os eloqüentes resultados obtidos através da aplicação do novo e revolucionário método pedagógico na vida dos estudantes da nova cátedra que afirmava que o ser humano pode ser dono absoluto de sua vida e de seu destino ao aprender a pensar por própria conta libertando-se das travas seculares que haviam imobilizado sua inteligência e sua vontade transformando-o num ser violento, irascível, perturbado e incapaz de conviver em paz com os seus semelhantes.

Depois de séculos de orfandade espiritual marcados por guerras inomináveis e sofrimentos sem par, o ser humano deveria começar a construir um novo caminho reconhecendo suas limitações e seus defeitos, conhecendo-se melhor e transformando a sua própria pessoa num ser verdadeiramente humano, deixando de comportar-se como um animal para compor um quarto reino, o hominal, no qual figurariam os seres verdadeiramente inteligentes e não os pseudo-inteligentes que fazem descobertas para infernizar a vida da humanidade. O neologismo mencionado teve de ser criado por González Pecotche para qualificar o novo homem que haveria de surgir das cinzas do velho homem desumano e triste.

“A vida do ser humano tem dois grandes objetivos: evoluir na direção da perfeição e tornar-se um verdadeiro servidor da humanidade”. Com essas palavras o pensador sintetizou o conteúdo da direção apontada por uma grande vontade que habita em todos os corações humanos e, tal qual uma lei, impulsiona-o para ascender às alturas inefáveis do conhecimento e da realização humanas.

Dentre as grandes lições deixadas pelo grande humanista destaca-se a da gratidão ao bem recebido que nos permite mantê-lo em nossas mentes e em nossos corações como um talismã que haverá de substanciar os nossos dias futuros e iluminar o caminho dos que virão trilhá-lo.

Assim, através da gratidão e da recordação, o espírito daqueles que beneficiaram a humanidade em sua breve passagem pela terra haverá de sobreviver e prosseguir em seu silencioso e humanitário trabalho, invisível aos olhos de muitos, mas sólido e consistente na perspectiva da História.


Nagib Anderáos Neto
www.logosophy.net

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LOGOSOPHY

Logosophy is a new and formative culture concerned with the self-elevation of human beings and the changes each individual may promote consciously in his own life. Wisdom comes from changes that occur in our mind and in our sensibility by our learning of how the mechanism of our spirit works. Transformation is the key to evolution since one understands that this movement must be in the direction pointed out by the law of evolution.

Changes in the psychological and mental configuration are gradual but firm. We may say that the real aim of our presence in this world is to evolve by studying and practicing the knowledge that we find in Creation. One must amplify his conscience by amplifying the capacity of thinking and feeling. It is like learning a language other than our own or learning to speak as a child: single words and short expressions, limited mental movements and, afterwards, powerful knowledge floating from the mind like great rivers come from small streams.

Life must be a great school instead of an enormous tomb where ideals are put to rest after one’s struggles and efforts to become someone capable of respecting his fellowmen, Nature and himself.


God is inside us and we must become aware of this fact by ourselves by changing our manner of thinking and feeling.

Espinoza would say that we don’t need to die in order to understand God and eternity but that we can experience this great reality from here, in this life, in this world, inside ourselves.

We must become free by developing our abilities and by understanding that everything is one, so we can see everything from the perspective of eternity.

Nagib Anderáos Neto
www.logosophy.net

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González Pecotche e a Logosofia

A Logosofia surge na República Argentina no ano de 1930. Naquele mesmo ano foi criada a Fundação Logosófica em Prol da Superação Humana em 11 de Agosto na cidade de Córdoba com o objetivo de difundir os novos conhecimentos. Logo se expandiu por toda a Argentina, Uruguai e Brasil.
González Pecotche, sempre à frente do movimento, trabalhou incansavelmente na criação e edição de livros e revistas. Proferiu palestras e assistiu o surgimento de inúmeras filiais daquela que era para ele uma Escola de Adiantamento Mental porque proclamava a possibilidade de cada ser humano poder ser seu próprio redentor, ao invés de entregar sua vontade e sua inteligência aos mercadores da Verdade.
A produção literária foi acelerada e a mensagem da Logosofia chegou a muitos pontos do planeta. A tímida escola de Córdoba alcançou contornos mundiais. Milhares de estudantes em todo o mundo experimentam hoje os benefícios do estudo que tem como objetivos principais o aperfeiçoamento individual e a união dos seres humanos.
Por não trazer nenhuma mensagem sensacionalista, por não pretender ser nenhuma panacéia, por não secundar nenhum interesse político ou econômico, por ser uma escola de estudo e investigação da figura humana, a Logosofia não penetrou na grande mídia, apesar de conhecida e estudada em inúmeros países na América e Europa.
Na Argentina,Uruguai e Brasil são criados os Educandários Logosóficos, escolas - modelo onde os alunos são também orientados no sentido do desenvolvimento psicológico, moral e espiritual, libertos de preconceitos seculares que têm afastado o ser humano de si mesmo, de seus semelhantes e de Deus.
Nascido em 11 de Agosto de 1901 e falecido em 1963, Carlos Bernardo González Pecotche transpõe os limites das fronteiras de seu país para se tornar um cidadão universal. O grande legado que deixou para seus amigos e discípulos foi o exemplo de uma vida inteiramente dedicada ao enobrecimento da espécie humana.
“A vida do ser humano tem dois grandes objetivos: evoluir em direção à perfeição e tornar-se um verdadeiro servidor da humanidade”, disse certa vez o pensador. Para isto, a Logosofia contribui com conhecimentos essenciais para a mente e sensibilidade humanas.
No despontar do terceiro milênio, quando as sombras de um século conturbado se desvanecem defronte das luzes de uma nova era, a Logosofia surge com uma nova mensagem de alento aos espíritos ávidos por mudanças e conhecimentos.

Nagib Anderáos Neto

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