Tuesday, January 24, 2012

O Discurso de Descartes

Descartes é considerado o pai da moderna filosofia. Nascido em 1596, teve suas obras condenadas pelos religiosos que a consideraram eivadas de ateísmo e imoralidade. Contrário às tradições, decidiu não procurar qualquer saber que não pudesse ser encontrado nele mesmo e no “livro do mundo”. Dedicou-se à investigação de si mesmo e morreu em Estocolmo de pneumonia, aos 54 anos. Matemático e criador da geometria analítica, ele ficou mais conhecido como filósofo por se dedicar às questões metafísicas, à existência de Deus e ao estudo da natureza humana. Mais do que estava escrito nos livros e na sujeição a preceptores, procurou o conhecimento pessoal na experiência da vida e nas reflexões.
Preocupou-se com o ser pensante, o campo da consciência, a demonstração da existência de Deus, Verdade pura; considerou-se como “um homem que caminha só em meio às trevas”. Para ele, a certeza de Deus provinha da certeza de si mesmo.
O discurso de Descartes descreve um método próprio através do qual o filósofo poderia chegar a várias conclusões no campo da matemática e da metafísica por conta própria. E é incrível constatar que após quase quatrocentos anos, a premissa básica do enunciador do aforismo “penso logo existo” não foi compreendida.
A razão humana não deveria aceitar passivamente, credulamente, nenhum conhecimento. A atividade da inteligência deveria filtrar e analisar tudo aquilo que em matéria de conceitos pudesse ter sido transmitido através da educação recebida promovendo uma revisão geral, a começar pelo da própria vida: viver por quê? E para quê? O método principia com a negação geral e o axioma básico “penso logo existo”; inspirado nas matemáticas procura provar a existência de Deus e o primado da alma sobre o corpo.
Dos seres vivos conhecidos, só o homem pensa, produz idéias e pensamentos. Numa linguagem mais apropriada, diríamos que só ele pode pensar; porque a maioria não o faz; imagina que o faça quando, na verdade, segue os pensamentos pensados por outras pessoas; é a ilusão da criação mental de uma humanidade acostumada e acomodada à condição de espectadora do drama humano. Pensar implica criação: forjar idéias e pensamentos que se consubstanciem em ação e sirvam para o bem e aperfeiçoamento próprio e dos semelhantes.
O “penso logo existo” poderia ser substituído por “crio logo existo”, pois somente tornando-se um criador se poderá eternizar. E como a maior obra seria a de esculpir em si um novo ser humano através da evolução pessoal, cada um, tornando-se criador de si mesmo, poderia afirmar que é a imagem e semelhança de um Criador maior.

Nagib Anderáos Neto
www.twitter.com/anderaosnagib

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Tuesday, January 17, 2012

Tales de Mileto

Tales de Mileto é conhecido como o pai da filosofia. De ascendência fenícia, nasceu na antiga colônia grega, hoje Turquia, 624a.C. e faleceu por volta de 556. Referia-se à existência de um principio único como sendo a água, talvez uma metáfora que se referisse ao rio Estige. Dois mil e quinhentos anos antes de Darwin, ele vislumbrou uma evolução vinda da água e, como Empédocles, que sobreviveria o que está mais bem capacitado; hoje diríamos que sobrevive o que mais se adapta.
Comerciante, político, filósofo, matemático e astrônomo, foi considerado um dos sete grandes sábios da Grécia e um homem extremamente prático. Atribui-se ao pensador muitas demonstrações geométricas, principalmente a de que quando duas retas se cortam, os ângulos opostos pelo vértice são iguais; de que uma circunferência é dividida em duas partes iguais por cada um de seus diâmetros; que um triângulo fica perfeitamente definido por sua base e os ângulos de sua extremidade; que os dois ângulos da base de um triângulo isósceles são iguais, etc.
Aristóteles considerou Tales o iniciador da filosofia por ter tido o tempo necessário que o ócio criativo exige, pois era um rico mercador.
Não é provável que tenha sido o primeiro homem a filosofar, a indagar sobre nossa origem e destino, pois tal postura faz parte da natureza humana, mas sim herdeiro de antigos conhecimentos e inquietações de egípcios e babilônios. Não há nenhum registro escrito de sua autoria, senão referências. A busca da unidade, da causa única, está relacionada com o pensamento de Heráclito de Éfeso que o sucedeu, outro pré-socrático para quem “todo o acontecer é regido por Leis Universais“ e que viveu de 535a.C. a 475 naquela cidade greco-romana da antiguidade, a segunda maior do Império, localizada onde hoje também se encontra a Turquia. O obscuro pensador Heráclito dizia serem as mudanças a essência das coisas, como a corrente de um rio no qual não se pode entrar duas vezes. Como aquele rio, a vida é cambiante e deverá ser por nossa vontade, não pela alheia. A essência da evolução é o movimento. O homem, entidade ímpar nesta parte da Criação, poderá realizá-la conscientemente em sua natureza mental e psicológica.

Tales é também conhecido como o filósofo do poço, o absorto pensador que, ao observar as estrelas, esqueceu-se do que estava abaixo de seus pés e afundou num fosso profundo; pressentiu a unidade por detrás da multiplicidade, e com ela o divino, o profundo, o invisível, o inominável, tudo cheio de mistérios, deuses, profundidade.
Para muitos, foi o primeiro a indagar sobre o contingente, o passageiro, o eterno, buscando a explicação da origem de tudo, e com os olhos tão distantes do dia-a-dia corriqueiro que foi capaz de perder o chão sob os pés por ter os olhos perdidos em abstrações para muitos inúteis, para outros necessárias para quem quer pensar com liberdade.
A inquietante busca da Verdade, da finalidade da existência humana, do significado da divindade e do Universo, ao invés de aceitar versões duvidosas sobre as questões que cada um deve esclarecer por si, faz com que muitos seres humanos dediquem suas vidas para se esclarecer e a outros que tenham as mesmas preocupações.
Talvez esse seja o objetivo da vida,

Nagib Anderáos Neto
neto.nagib@gmail.com

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