Wednesday, January 26, 2011

A Morte Não Existe

É possível que o temor da morte provenha do fato de se pensar que tudo termine com a vida. A morte verdadeira é o não pensar, uma tirania que aprisiona a inteligência, uma escravidão mental.
Como sentir a eternidade dentro de si?
Não estamos morrendo todas as noites para despertar no dia seguinte?
Na Comédia de Dante, diz o poeta: “O pior dos suplícios é sentir-se morto sem acabar de morrer, é sentir-se quase vivo estando morto, e ansiando morrer, seguir vivendo”.
A morte tem a ver com a falta de estímulos, de interesse e esperança.
O essencial é a atividade, o movimento, o equilíbrio. É necessário abandonar a inércia e a desesperança, construir um novo futuro, ressurgir das cinzas como o pássaro imortal, uma verdadeira ressurreição que a lenda de Lázaro não pode explicar.
Por que o espírito humano busca o conhecimento e o aperfeiçoamento? Por que busca o acercamento com Deus?
A liberdade do homem é construída sobre o pensar. Quanto mais pensar, mais livre será. Mas o que é pensar? Esta movimentação discricionária de pensamentos na mente seria pensar? Não, isso não é pensar, criar soluções luminosas, optar por caminhos, selecionar o que convém para o bem e felicidade próprios e alheios.
Ao pensar, opomo-nos à fatalidade e liberamo-nos do destino comum, da mediocridade. Trata-se de opor à fatalidade um destino construído pela pessoa, que será viável através do conhecimento, do domínio dos pensamentos. Todos têm o privilégio de mudar o destino, apesar de não poder modificar o desígnio que lhes dá um tempo de vida neste planeta. A cada decisão que se toma, o futuro está sendo alterado. A fatalidade e o predeterminismo não existem para quem use sua inteligência para construir o futuro. Não é a fatalidade que leva o desatento a acidentar-se, o esquecido a envolver-se em inúmeros problemas, o irascível a atrair sobre si a violência dos que não o suportam. O destino pode ser modificado por quem compreende que deve se transformar para construir uma vida melhor, pois existe para o ser humano o livre arbítrio, a liberdade interior por optar sobre o que quer pensar, fazer, realizar. Assim se poderá escapar da fatalidade.
Qualquer obstáculo pode ser transformado em instrumento de aperfeiçoamento pessoal através da utilização da inteligência. Um defeito que nos incomoda poderá mover-nos para combatê-lo, extirpá-lo. Mudando, poderemos construir um novo destino. Nenhuma idéia diferente ou oposta à do aperfeiçoamento poderá nos impulsionar para a construção de uma vida mais feliz.
Um dos preceitos gravados no Templo de Delfos era o “Conhece a ti Mesmo”. Platão diz através de Sócrates - personagem de um de seus escritos - que “parece-me ridículo, pois, não possuindo eu ainda esse conhecimento, que me ponha a examinar coisas que não me dizem respeito. Não são as fábulas que investigo; é a mim mesmo”.
Esse conhecimento implica conhecer os defeitos pessoais; é muito comum censurarmos os dos outros. Ao evitar, em nós, os que censuramos, estaríamos realizando uma pequena parte daquele conhecimento inscrito no templo grego.
Assim como a fome e a sede são sinais de nosso organismo indicando que precisamos nos alimentar, os defeitos são sinais de que nosso organismo psicológico nos dá indicando que devemos mudar. E o nome dessas mudanças é educação espiritual; construção de uma nova conduta que deverá nos ocupar diariamente, da mesma forma como dormimos e nos alimentamos, para não cair na inanição mental, na indigência espiritual.
Há também muitos preconceitos que precisam ser eliminados e que nos têm influenciado fortemente. O primeiro deles é o que diz que não podemos mudar, que tudo está escrito, que a vida é um vale de sofrimentos, que não somos ninguém, que o ser humano não tem conserto, que alguém virá para nos salvar e resolver por nós o que não conseguimos.
Ao vencer tais preconceitos e assumir as rédeas do destino, opomo-nos ao comum e á fatalidade que não existe para quem lute por pensar com liberdade e construir o próprio futuro.


Nagib Anderáos Neto
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Preconceitos e Conceitos Mumificados

Consta que Einstein teria escrito ser mais fácil destruir o átomo do que um preconceito.
O que é um preconceito? Seria um conceito mumificado que não evoluiu no tempo?
Acreditar que o futuro está escrito, que não poderemos criar nosso destino, é um exemplo eloquente de um preconceito.
Quem estuda e se esforça por melhorar suas condições intelectuais e materias está criando um novo futuro, transformando o destino comum ao qual estarão sujeitos os que não se esforçam por melhorar as suas vidas.O destino está escrito para os que acreditam nessa predestinação, os inertes, encostados.
A única certeza que se tem sobre o futuro é que um dia se vai morrer, por ser o cumprimento de uma lei. Se se quer dizer que isso está escrito, que seja.Mas entre o dia do nascimenrto e o do desenlace final, todos os outros serão nossos, e poderemos optar por ser seus construtores ou espectadores passivos de um drama individual.
Um outro preconceito muito ligado ao anterior é que não poderemos mudar a nossa maneira de sentir e pensar, quando a vida deveria ser feita de mudanças; sem elas não há melhorias, evolução.
É um preconceito achar-se superior aos demais, como
também inferior. Não adianta compararmo-nos com os outros; o
importante é estar sempre a observar a própria conduta com o intuito de melhorá-la. Os outros devem ser para nós exemplos do que poderemos chegar a ser ou do que não deveremos ser.
E os dois maiores preconceitos que têm impedido a efetiva evolução da espécie humana : Deus é matéria de crença ou não existe. Preconceitos que se fundem por impedir que o homem empreenda na vida uma trajetória de aprendizado que lhe permita descobrir o motivo de sua existência no planeta.
A crença na inexistência é a mesma que a da existência de Deus; são atitudes passivas diante de uma realidade que deveria ser investigada, estudada. E como todo o conceito, deveria ser analisado e passível de aperfeiçoamento para que não se transforme num preconceito que deveria ser substituído por firmes convicções alicerçadas na realidade e confirmadas pela inteligência ativa capaz de examiná-las através da observação que haverá de estar sempre a aperfeiçoá-las.
Conceitos mumificados transformam-se em preconceitos.

Nagib Anderáos Neto
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Thursday, January 20, 2011

Emagrecer Comendo: Menos Alimento e Mais Atividade

O amigo havia perdido sessenta quilos em doze meses sem remédio ou ginástica, comendo de tudo. Noutro dia fomos almoçar e ele me explicou como a coisa funciona: mastigar, mastigar, sentir o gosto da comida, sem pressa; concentrar a atenção no ato de comer e fazer a refeição em vinte minutos. Caso sobre comida no prato, não faz mal, não é pecado. O errado é comer demais.

A coisa é interessante, embora engraçada. O garçom não entendeu quando pedimos a entrada, o prato principal e a sobremesa ao mesmo tempo para que a operação pudesse ser feita nos vinte minutos. Não dá para conversar, ler ou divagar; é necessário comer devagar.

Já há muito espertalhão vendendo a técnica que acabamos de resumir e que deu certo para o meu amigo que já havia sofrido muito com privação e remédio que só serviram para deprimi-lo e enfraquecê-lo.

O exagero na ingestão de alimentos não permite a assimilação e acabamos por ter de conviver com o excesso em forma de gordura. O mesmo acontece com a informação e a cultura inútil que a mente recebe e não serve para nada, ficando ali, no recinto mental, ocupando espaço e pressionando a mente, prejudicando a capacidade da memória. Recentes pesquisas feitas por médicos americanos mostram a correlação entre o excesso de informação e doenças cardíacas. Notícias inúteis, livros que não dizem nada, filmes e programas de TV que absorvemos às pressas sem realizar o processo seletivo que requer tudo o que haverá de penetrar em nossa mente.

A gordura física e a mental devem ser evitadas através da seleção e assimilação inteligentes. Como disse o meu amigo, sobrar comida no prato não é pecado. O errado é comer demais.

Tanto física como mentalmente, é necessário que haja um equilíbrio entre e o que se assimila e o que se gasta. Fisicamente, mede-se em calorias; mentalmente, em atividade; é preciso absorver e gastar. No aspecto mental, através do aprendizado e da criação, do exercício da função de pensar, de criar e por em andamento idéias e pensamentos que nos sejam úteis e também para as pessoas com as quais convivemos. Caminhar uma hora por dia, pensar uma hora por dia sem nenhuma interferência, anotando o que vem à mente e planejando o futuro que se quer viver.

Toda a atividade deve ser inteligente.



Nagib Anderáos Neto
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Wednesday, January 19, 2011

Populismo e Aquecimento Global Provocando Grandes Catástrofes

A questão do aquecimento global alcançou contornos dramáticos com a publicação do relatório Stern no Reino Unido em 2006. Economistas de todo o mundo consideram que as empresas não podem mais desprezar os impactos ambientais no planejamento de seus empreendimentos. A prova cientifica de cataclismos iminentes neste século são irrefutáveis e há grande preocupação com o desenvolvimento de técnicas para utilização de energia limpa.

O aquecimento global está afetando seriamente a economia do planeta. O derretimento de geleiras provocará graves inundações afetando o abastecimento de água e a agricultura na Índia, na China e parte da América do Sul. As áreas costeiras, onde uma em cada vinte pessoas vive no planeta, serão seriamente afetadas, a começar pelos países mais pobres cujas economias serão muito prejudicadas. Mesmo os mais ricos não sairão imunes, como no Sul da Europa, pelas dificuldades com a água, nos Estados Unidos, com o aumento da velocidade dos furacões, e no Reino Unido, com as inundações.

No Brasil, recentes catástrofes com mortes e inundações em Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas e São Paulo confirmam o desarranjo climático provocado pelo aquecimento global e pela falta de planejamento urbano. Encostas são ocupadas irregularmente por falta de fiscalização adequada e por interesses políticos escusos que, na busca pelo voto, fecham os olhos dos administradores públicos para a ocupação ilegal, inclusive estimulando-as, como acontece em vários trechos da Serra do Mar no Estado de São Paulo. Os políticos aparecem depois das catástrofes para prestar “ajuda humanitária”, quando deveriam ter planejado e prevenido as ocupações irregulares por todo o país.

Para se evitar as catástrofes serão necessários investimentos da ordem de 1% do PIB mundial para reduzir as concentrações de gás carbônico para cerca de quinhentas partes por milhão (500ppm) através da redução da procura por mercadorias e serviços que produzem emissões intensas, aumento da eficácia, diminuição drástica do desmatamento e mudanças para tecnologias de baixo carbono na produção de energia, transportes e aquecimento.

A transição para a nova economia de baixo carbono é impostergável apesar da grave crise econômica que se está atravessando com tendência a cortes nos gastos e protecionismo para os mercados internos que dificultam a meta de redução de 80% até 2050.

No caso do Brasil, grande parte das emissões é devida ao desmatamento na Amazônia que precisa ser contido. Além disso, o modelo de transporte rodoviário utilizando diesel de baixa qualidade precisa ser alterado. A Petrobrás distribui no Brasil um diesel com alto teor de enxofre que é cancerígeno e exporta o diesel limpo, desatendendo determinações do Conselho Nacional do Meio Ambiente, o que caracteriza um conflito entre governo, desenvolvimento e proteção do meio ambiente.

O aproveitamento do potencial eólico no Nordeste onde há muito vento em época de seca precisa ser estimulado através de investimentos em pesquisas para que se tenha o modelo dinâmico dos ventos, pois faltam conhecimentos e a incerteza implica altos custos para aproveitar essa energia abundante no Nordeste e no Sul.

Falta no país uma política de incentivos para que as empresas se ajustem ao baixo carbono, pois os principais incentivos vão para o alto carbono. Governo, empresas e a sociedade civil terão de se unir para a gestão impostergável de uma nova economia de baixo de carbono.

Fala-se muito em preparar para as gerações futuras um mundo melhor, menos poluído, sustentável. Mas é necessário também preparar uma geração futura melhor, menos agressiva, mais consciente, menos consumista, o que poderá ser realizado através de um efetivo choque cultural e educacional que, para muitos, sequer foi iniciado.


Nagib Anderáos Neto
neto.nagib@gmail.com
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O Diabo e Bertrand Russel

“Que o diabo te proteja", murmurou a senhora por não lhe ter dado o trocado que me pedira na calçada da grande avenida.

Veio-me à recordação o anjo caído, e com ela os tempos da infância, o colégio dos padres, as missas, as confissões, as rezas, os sermões na paróquia da Aclimação naquele período distante quando imperava a pedagogia do medo. E vi-me transportado de uma calçada à outra da avenida da vida por onde fluía o sangue nervoso da cidade no final do ano, concluindo um período agitado e crítico. O fantasma de então não era a inflação, senão o desemprego, a recessão. O mesmo terror de sempre imposto aos que não querem pensar por própria conta.

Já se disse que os homens são livres, mas não o sabem; nascem livres e vão perdendo a liberdade que lhes fazia sentir imortais, verdadeiros super-homens no formidável universo infantil. Este seria o tão bem-guardado segredo dos tiranos, dos déspotas: o fato de saber que os homens são, em princípio, livres, mas não o sabem.

A liberdade, como tudo o que se recebe ao chegar neste mundo, é um dom que se não utilizado pode se desvanecer, da mesma forma que a inteligência e a sensibilidade humanas.

É comum ouvir-se dizer que o ser humano usa quase nada de sua capacidade mental; que uma mente preparada poderia realizar verdadeiros prodígios. Por que isto acontece? Por que a mente é subutilizada? Quais as causas desta deficiência? O que fazer para tornar a mente mais eficiente?

A falta de liberdade é como um cárcere mental cujos barrotes são o temor de pensar, os preconceitos, a ignorância sobre si e as Leis que regem o Universo.

Todos querem a liberdade e trazem-na dentro de si como algo que não se realiza. Todos sabem que o homem não deve se curvar perante poderes quaisquer. Se ele, como diziam os gregos, é a medida de todas as coisas, por que vive tão esquecido de si? Por que tão ausente e entretido com o que não é essencial por ser passageiro, efêmero?

A verdadeira liberdade é a de pensar. É assim como o espírito humano respira, pensando com liberdade, que é o mesmo que criar, ter um domínio sobre os pensamentos que habitam a mente ou perambulam por aí fazendo os estragos que todos sabem quais são.

Ser livre é usar com liberdade a inteligência, e não somente a memória e a imaginação como nos têm pretendido impor aqueles que nos querem manter atados às rédeas da submissão e da imposição.

Os tiranos, os ditadores, os inimigos da liberdade não querem que o homem pense porque tal grito de liberdade, tal oposição às imposições, é a ameaça ao onímodo poder que as ânsias de domínio desenham em suas mentes doentias.

Pensar, observar, raciocinar, refletir, combinar e julgar são algumas faculdades da inteligência que não têm sido muito exigidas e desenvolvidas pelo ser humano que pode, num grito de liberdade, deixar de ser joguete e escravo de pensamentos alheios que nada têm a ver com a felicidade almejada pelos que sonham com a liberdade.


E enquanto a mulher se afastava com seu pequeno deus te proteja para os que cedessem às suas súplicas teatrais, prossegui refletindo com os diabinhos, as experiências que se vive na ignorância e acabam por causar queimaduras, algumas difíceis de serem curadas e que podem tornar a vida um verdadeiro inferno. Elas são inevitáveis, mas precisam ser controladas. As adversidades não são mais que estas chamas que deverão ser enfrentadas e vencidas, fortalecendo com seu calor a têmpera pessoal. Controlar este fogo exige conhecimento, inteligência e boa vontade. Domar o Lúcifer pessoal, a natureza inferior do ser humano com arroubos de épocas primitivas, faz parte de uma grande experiência de vida que se pode realizar.

A ignorância queima. O conhecimento cura. A esmola vicia e paralisa; é uma ajuda que algumas poucas vezes é justificável, mas, em geral, morre ali, não tem continuidade. A verdadeira generosidade é ampla, um sentimento guiado pela inteligência que faz com que o ajudado transmita o bem recebido para outras pessoas e não morra em si egoistamente. Mais do que ensinar a pescar, que é sempre melhor que dar o peixe, é necessário ensinar a pensar, criar soluções para os problemas de toda a ordem que surgem no dia-a-dia, criar pensamentos que sejam úteis e que sobrevivam aos curtos anos da vida terrestre.

A velha senhora me fizera recordar que a busca da felicidade com base em crenças falsas não é nem muito nobre e nem muito grandiosa, e que a tirania do medo destrói a luz do dia e mantém os homens humilhados e cruéis. Nenhum homem está livre se não ousar ver qual é o seu lugar no mundo. Nenhum homem pode atingir a grandeza do que é capaz até que se tenha permitido ver a sua pequenez, como muito bem ponderou o pensador inglês Bertrand Russel (1872-1970) que defendia um mundo onde educação e liberdade fossem privilegiadas, ao invés do encarceramento do espírito na rígida armadura dos dogmas, da intolerância opressora. Um mundo que necessitaria conhecimento, bondade e coragem, e não seguir palavras ditas há muito tempo por homens de formação duvidosa; que a vida humana pudesse se transformar através da razão.

O pensador inglês se considerava um cético, mas julgava que a vida do homem poderia se transformar através da razão. Ponderava que o ser humano deveria encarar e demolir as próprias crenças que deveriam ser substituídas por convicções profundas, frutos de conhecimentos; foi um pacifista, matemático e filósofo, tendo recebido o Prêmio Nobel de Literatura em 1950. Era um racionalista, na linha de David Hume.

E à velha senhora que me encomendara ao diabo, não pude mais que me descobrir reverente pela oportunidade da reflexão.

Nagib Anderáos Neto
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Tuesday, January 18, 2011

A Grande Caminhada

Andar a pé faz bem.
Costumo mudar o trajeto para manter viva a idéia de que a rotina não é boa, e que se pode caminhar com os pés e com a mente, pois a vida é uma grande caminhada.
Andar, mentalmente, requer algum esforço: começando por saber o que existe dentro da mente, quais pensamentos estão a governá-la, se são úteis ou inúteis – grande mistério que, se decifrado, poderá constituir-se na reversão da condição humilhante em que a maioria vive,escravizada por pensamentos que vêm dominando os seres humanos há séculos - .
Caminhar mentalmente implica liberar-se de preconceitos, da rotina e do temor – arma maligna dos que pretendem subjugar as pessoas pelo terror - .
Todas as limitações humanas são mentais, provêm da ignorância que paralisa a inteligência do homem tornando-o um dócil instrumento nas mãos de pensamentos estranhos ao seu sentir, mas que sua mente indefesa não consegue repelir.
A grande crise que vive o homem de hoje é mental, porque o ser humano deixou de pensar, e a anarquia em que vivemos é causada por pensamentos que pervertem as mentes dos homens indefesos, ignorantes de si , pervertendo também a convivência humana que vai se tornando cada vez mais difícil e penosa.
Para poder se controlar é necessário aprender a pensar, criar pensamentos, idéias e soluções que nos permitam sair do labirinto em que nos encontramos, presas fáceis de pensamentos monstruosos que foram se gestando nas mentes através dos séculos. A crise mental é a causadora da crise social e humana.
O penso logo e o existo de Descartes segue sendo uma quimera; se o homem pensasse, não se comportaria com o seu semelhante como tem feito, pois inteligência pressupõe convivência pacífica entre as pesoas.
O homem segue sendo um mistério para si mesmo porque se desconhece, não sabe o que tem na mente e nem como aperfeiçoar esse mecanismo, mas traz no fundo de seu coração a esperança de encontrar o caminho que o leve de volta para o seu mundo.
Esta será sua grande e definitiva caminhada.

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Nagib Anderáos Neto

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Monday, January 17, 2011

Livros Para Homens Livres

Havia na estante a coleção completa do Tesouro da Juventude a me olhar desafiadoramente com o seu Livro dos Porquês e suas folhas cheirosas e brilhantes. E lá também o resumo de grandes obras literárias, iniciação juvenil, verdadeiras janelas abertas para o mundo. E Lobato, o mágico, com a Gramática da Emília, Reinações de Narizinho, Os Doze Trabalhos de Hércules e a mitologia ao alcance de todos. Havia a coleção arrumada das Seleções até o último exemplar do mês e O Pequeno Príncipe presenteado pelo professor de latim quando fiquei encarcerado no quarto por causa de uma hepatite devastadora.

Havia o rádio e os relógios decompostos que eu jamais fizera funcionar novamente. E Stefan Zweig falando de um país de um futuro que não chegava nunca sepultado entre Fouché, Maria Antonieta, Maria Stuart, Caleidoscópios e Calvino.

Havia Huberto Rohden com sua idealizada perspectiva de um cristianismo sem templos ou sacerdotes e o Goethe, naquela edição castelhana com suas páginas finíssimas – presente de papai num 6 de setembro inesquecível –, com o seu Werther eternamente à procura do amor impossível. E aquela série inumerável dos livros do mês que mamãe devorava avidamente na fuga da rotina: Cronin, Amado, Clarice, Balzac, Victor Hugo, Humberto de Campos, Guimarães Rosa, Bíblias desgastadas e o missal que eu nunca li. E havia os dicionários, ah! os dicionários, uma vida e uma solidão naquelas estantes multicoloridas e promissoras, cânone familiar e singelo, garimpos de cultura. Mas não havia ali a pessoa do Pessoa e nem a Emily Dickinson construtora de naturezas. Não havia ali as flores de Baudelaire e nem o sábio astrônomo de um americano chamado Walt Whitman ou o Emerson com a sua poesia filosófica ou canto telúrico de Neruda. E não havia ali o Borges com os seus espelhos e labirintos e nem o argentino González Pecotche com a sua Logosofia revolucionária e humana, construtora de culturas e de ideais.

Havia ali uma promessa, uma plenitude e um vazio; livros adormecidos, espaços a serem preenchidos, pensamentos e idéias enclausuradas em páginas comprimidas pelo esquecimento à espera do toque mágico da mão curiosa, do olhar atento e inquiridor do aprendiz que poderia libertá-los do silêncio e do sono e torná-los, redivivos, fachos luminosos nesses obscuros caminhos criados pelo homem moderno.

Havia ali livros. Livros feitos por homens e para homens livres.


Nagib Anderáos Neto

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