Friday, March 12, 2010

A Equação do Amor

Quando John Nash descobriu que estava louco, tendo visões, alucinações diversas, ponderou, como cientista dado a lógicos raciocínios, que haveria para ele duas saídas: internar-se e submeter-se ao tratamento de praxe - química e choque - ou lutar contra a própria loucura, conhecê-la, debilitá-la, talvez anulá-la. Com a ajuda da esposa, enfrentou as próprias alucinações, aqueles pensamentos obsessivos que assumiam a forma humana e que com ele conversavam: um imaginário colega de quarto na Universidade com sua sobrinha e o poderoso Grande Irmão do FBI.
Se por um lado houvesse aquelas sombras mentais em sua vida - esquizofrenia pura - havia também o arcabouço - ainda intacto - de uma mente brilhante, capaz de vôos matemáticos cujas equações deslumbravam alunos e colegas.
John Nash reconheceu que estava louco e enfrentou as próprias visões, submeteu-as a uma espécie de coleira psicológica, domou-as, aquietou-as, transformou aquelas fantasmagóricas figuras em dóceis visões que pouco influenciavam a sua vida. Foi um trabalho científico, metódico, disciplinado. Ele conseguiu domar a própria insanidade e continuar seu trabalho na pesquisa e na docência universitária.
Ao receber o Prêmio Nobel na Academia em noventa e quatro, o cientista desvela em seu discurso o segredo do sucesso na maior de suas empreitadas: enfrentar-se e domesticar suas feras mentais. Diz que as equações foram a paixão de sua vida mas que sobre todas elas houve uma equação maior, complexa e misteriosa, que o salvou da loucura absoluta: a equação do amor que fora escrita em seu coração por sua amada esposa que o salvara de si mesmo. Nenhum raciocínio, nenhuma lucubração, nenhuma matemática comparável àquela divina matemática do amor.
John Nash viveu, aguda e intensamente, o drama de todos os seres humanos e conseguiu superar os seus temores, afastar os seus fantasmas, dominar os seus inimigos interiores através da alquimia do amor que tudo pode, que tudo transforma, somado a um lúcido e metódico trabalho que a si mesmo se impôs.
O que é então o amor senão esta força poderosa que tudo pode transformar e que está impregnado na mais ínfima partícula do Universo?
Sem amor não há vida, não há futuro, não há passado.
Lutemos, então, contra os nossos próprios fantasmas para que ele possa florir em nossos corações.


Nagib Anderáos Neto
www.nagibanderaos.com.br

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Saturday, March 06, 2010

Eleições e Palanque

O estímulo à iniciativa privada deveria ser base de toda política desenvolvimentista. O homem de iniciativa cria trabalho para si e outras pessoas. Às classes trabalhadoras se deve dar oportunidade de trabalho e iniciativa. Todo assistencialismo é pernicioso por acomodar o assistido, como a esmola que vicia, paralisa, entorpece.
Uma política econômica inteligente deveria estimular a iniciativa privada. Juros e impostos em ascensão desestimulam a produção gerando desemprego, estagnação e inflação.
Um governo mal gerido e endividado toma dinheiro no mercado para pagar sua ineficiência gerando inflação. Ao invés de estimular a educação e a iniciativa, promove o assistencialismo, aumenta sua dívida e encobre seus rombos através da desinformação e da tergiversação.
Para manter-se como governo indefinidamente, os partidos no poder negociam alianças que garantem votos através de gastos públicos indevidos, utilizando o dinheiro que lhes chega através de impostos crescentes e juros exorbitantes. Em outras palavras: o bolso do povo é subtraído legalmente através de conluios que aqueles partidos arquitetam.
Mas se é o próprio povo quem elege os governantes, onde está o problema?
Não podemos nos conformar com a crença retrógrada de que o voto implique democracia. O governo do povo para o povo deveria representá-lo, cumprindo seus anseios e a Lei Maior que não pode ser letra morta. Educação, saúde, trabalho, segurança e proteção ao meio ambiente deveriam ser os temas que ocupassem as mentes do homem público, e não a forma de se chegar ao poder e ficar nele indefinidamente.
O absolutismo partidário impõe os candidatos que lhes são convenientes para que se perpetuem. O eleitor é obrigado a votar, e por imposição. Prova disto é o eterno retorno daquelas figuras histriônicas que estão sempre a se reeleger, não para servir o povo, senão a si próprios. A política, que deveria ser a arte de gerir o bem comum, transformou-se na arte de chegar ao poder e permanecer nele indefinidamente, até que uma força maior leve o político deste mundo para sempre, mas logo sendo substituído por outro igual, como uma praga que nunca se extingue.
O bem estar comum depende do incremento constante à livre iniciativa para o que os governos se tornaram grandes obstáculos. O desestímulo à produção gera inflação, aumento do custo de vida.
Uma fórmula básica de incremento à iniciativa é a educação que amplia a inteligência das pessoas e sua capacidade de produção e boa convivência. Mas os governos são muitos caros e gastam muito para se manter no poder, não lhes sobrando quase nada para a educação.

Muitos políticos parecem atores de telenovela que representam papéis que na vida real jamais poderiam desempenhar. Um ator que nunca cursou uma faculdade desempenha o de um economista, um administrador, um professor, um gestor público. Isto porque a política, que deveria ser a arte de gerir o bem comum, passou a ser a arte de chegar ao poder e permanecer nele, discursar e predicar, candidatar-se e eleger-se vitaliciamente. Ela não é somente exercida nos governos em suas diversas esferas. Os políticos estão por aí, nas empresas, associações, sindicatos, nos conluios e panelinhas, sempre a atender sonhos de poder e projeção. A ambição não olha apenas para a riqueza, olha também para os insanos sonhos de poder. Os políticos são, em geral, personalidades movidas por pensamentos farisaicos, medievais, cruéis. E estes pensamentos devem ser combatidos, pois todos nós temos um pouco destas manchas em nossas mentes que endurecem os corações.
Numa sociedade em que a raiz de todos os problemas reside na ausência de um sistema educacional eficaz, menosprezar a cultura e a educação é a política mais retrógrada pela qual se possa optar.
No mundo dos engenheiros e dos arquitetos é comum ouvir-se dizer que o papel aceita tudo. No triste mundo da política, cunhou-se um jargão piorado: o palanque, as câmeras e os microfones aceitam tudo.
Para que o capital não comande o trabalho, os grandes cresçam e os pequenos desapareçam; para que a burocracia gerencial, sindical e governamental deixe de atravancar o progresso; para que a massa popular deixe de ser rebanho, obedecendo, trabalhando, consumindo e se divertindo apenas, urge uma verdadeira revolução educacional que governo nenhum estaria prestes a realizá-la.
Como bem disse o Marquês de Condorcet, “sob a mais livre das constituições, um povo ignorante será sempre escravo”.

Nagib Anderáos Neto
www.nagibanderaos.com.br
neto.nagib@gmail.com

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