Friday, September 18, 2009

Sócrates e a Busca da Sabedoria

Sócrates era visto como um corruptor perigoso da juventude. A todos exortava a que não se preocupassem tanto com as coisas materiais, senão com a alma; que se tornassem pessoas boas. Um sábio que dizia nada saber e que poderia ter sido um ponto de inflexão cultural e dos costumes, mas não o foi. Tomou da cicuta cumprindo o destino que lhe fora imposto pelos juízes e políticos para os quais um povo que pensasse não seria conveniente. Quando o filósofo disse ser imortal, quis, talvez, significar que seus pensamentos e idéias sobreviveriam à morte e seguiriam pelos séculos como fachos luminosos para as inteligências que se decidissem por pensar.

Para o filósofo grego, nada mais interessava que a Verdade e a Justiça; por tal postura foi condenado pelo Estado decadente.

Para seu discípulo Platão, as virtudes seriam arquétipos que o ser humano traz consigo ao nascer (contrariamente à idéia de pecado original colocada séculos depois na cultura ocidental), mas que, misteriosamente, ficariam aprisionadas no ser humano, esperando a liberação de seu mutismo. Haveria no Universo um impulso natural para a perfeição; os arquétipos estariam no mundo metafísico revestidos de profunda realidade e permanência. Os seres seriam transitórios, os arquétipos permanentes. O homem existira antes de sua existência temporal como arquétipo.

Aristóteles, herdeiro do pensamento de ambos, afirmara que a Natureza é um processo de autorrealização e autoaperfeiçoamento. O homem tem de transformar-se em Homem (humanismo). O que distinguiria o homem do animal seria a razão. O sentido da existência, o conhecimento. “Tudo da Natureza traz algo de divino em si.” A divindade é imanente à Natureza e não exterior a ela.

“Não se deve escutar a advertência daqueles que dizem que o homem deve pensar apenas no humano, o mortal apenas no mortal: antes, devemos empenhar-nos, tanto quanto o possível, em ser imortais.”

Interessante observar como os três pensadores se confundem num só,complementam-se. Sabe-se que Sócrates nada deixou escrito; todas as referências provêm de Platão, seu discípulo. E essas idéias atravessaram séculos de obscurantismo espiritual. E as palavras atribuídas a ele ao término de sua defesa viajaram no tempo como um misterioso sinal a ser decifrado: “É chegada a hora de partir: a mim, para morrer; a vós, para viver. Quem de nós enfrentará o melhor destino é desconhecido de todos, exceto de Deus.”

Existe um paralelismo entre o pensamento de Spinoza e o de Sócrates que diziam que o homem não era o compacto, o tocável, senão o invisível, o da essência. Afirmavam que ele tinha em seu interior tudo para se desenvolver; que deveria primeiro conhecer-se, e depois o que o cercava; que o princípio da sabedoria consistiria no reconhecimento da própria ignorância. Ambos foram condenados pelo poder político, por opor-se às idéias dos governantes e não cultuar suas personalidades, e nem as divindades do Estado.

Apesar de ter a oportunidade de fugir, o filósofo grego não o fez. "Sócrates é imortal. Podem matar o invólucro de Sócrates, mas Sócrates é imortal." E, segundo Platão, enfrentou a morte com serenidade. Talvez por ter compreendido que a morte verdadeira fosse o não pensar, a submissão aos pensamentos pensados por outras pessoas e à cruel ditadura dos mercadores da verdade.

Embora estes filósofos, como tantos outros que os sucederam, tivessem intuído um caminho e um conhecimento que transcendesse o dia-a-dia rotineiro de uma vida materializada e vazia, não conseguiram vislumbrá-lo com clareza nem trilhá-lo, para que pudessem depois ensinar às gerações que lhes sucederiam. Deixaram marcos, avisos, alertas que não foram tomados em conta, e a humanidade mergulhou nos fanatismos de toda a espécie, sejam políticos ou religiosos, sempre muito próximos, e que têm distanciado a humanidade da verdade, que a tem separado em ideologias, raças, religiões, partidos políticos.

O que significa afinal preocupar-se com a alma? Como se tornar uma pessoa boa sem ser ingênua? O que é a verdade e a justiça? Como aperfeiçoar-se e transformar-se em Homem atingindo a imortalidade?

Cada ser humano haverá de buscar as respostas por si mesmo, pois as que foram entregues prontas não são mais que o pão amanhecido e duro da tergiversação;respostas prontas imobilizam a inteligência e são formas padronizadas que impedem o movimento e a evolução.

Ao invés de procurar o elo perdido nos primatas, o homem do futuro haverá de buscá-lo em si mesmo, no seu coração e na sua consciência, na prerrogativa evolutiva que lhe foi dada neste sentido pelo Deus único que os céticos chamam de acaso, e cuja face visível é o Universo, e a invisível as suas leis que podem ir sendo conhecidas pelo homem em evolução.


Nagib Anderáos Neto
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Tuesday, September 08, 2009

Liberdade Pela Educação

A causa de toda a pobreza é a ignorância. E não há outra forma de combatê-la que não seja através da educação. Muitos países ditos em desenvolvimento vão de encontro à história pelo mau exemplo de seus governantes que privilegiam o assistencialismo inócuo, mergulhando o povo na inércia, ao invés de estimular o estudo e a iniciativa.

Não há maior inimigo da liberdade que a ignorância. E não há maior ignorância que a ausência de si mesmo, a inconsciência dos que se encarceram por detrás dos barrotes de preconceitos e idéias medievais e retrógradas.

Ao mesmo tempo em que o homem traz dentro de si o anseio por liberdade, também traz a tendência à submissão, por acreditar em coisas inverossímeis, por cultivar ídolos, idolatrar místicos fantasiosos, apesar de todos os homens terem o anelo de serem felizes.

Essas tendências aparentemente paradoxais – a de dominação e submissão - são frutos psicológicos de uma característica inerente ao ser humano: ligar-se aos outros, não ser uma pessoa isolada, comunicar-se. Ser chefe, empregado, súdito, pastor, rebanho. Talvez aí a explicação das seitas, religiões, ideologias, partidos políticos e fanatismos que não justificam tal tendência.

A lição da pobreza ensina que o maior cego não é o que não quer ver, senão o que não quer entender. E que ajudar os outros é a melhor maneira de ajudar a si mesmo. E que mais que dar o peixe ou ensinar a pescar, o fundamental é ensinar a pensar. E nunca pretender ensinar antes de haver aprendido. E que pensar é, antes de tudo, criar.

O homem nasceu para ser feliz e aprender que a maior de todas as felicidades é saber, conhecer e ser livre. A maior das escravidões é a mental, onde o homem se vê encarcerado nos barrotes da ignorância, a pior das prisões: o desconhecimento da própria realidade, das causas dos erros e desacertos. Quem se desconhece é um presidiário na própria casa, embora perambule em aparente liberdade pelas ruas cercado por temores e incertezas.

A verdadeira torre de Babel está aí. Os que falam o mesmo idioma não se entendem, significando que deve haver um outro a ser cultivado para que se caminhe pacificamente. Tudo indica que a linguagem inscrita na Natureza ainda não foi decifrada pelo pequeno homem pretensioso, vaidoso e político.

Homens divididos são domináveis, escravizados pelos que em tudo veem a possibilidade de satisfações materiais, cegos por inconfessáveis ânsias de domínio, poder e riqueza.

Pensar é respirar. O Universo respira por mais que queiramos abafar e aquecer o pequeno planeta com o gás sufocante de nosso progresso. A Terra é um ínfimo na Criação imensa. A inteligência não, ela pode ser maior. A alma pode transcender este hiato decaído e se projetar num futuro ilimitado, onde os homens sentirão a alegria de viver e serem humanos.

Os déspotas, os impostores e os predicadores são os inimigos da liberdade que não querem que o homem pense e seja livre. O ser humano não nasceu para viver isolado e nem acorrentado. E a maior das escravidões é a mental, fruto da ignorância.

O ideal de fraternidade permitirá que o homem se aproxime de seus semelhantes através do conhecimento e da cultura, únicas riquezas capazes de tirá-lo do sofrimento, do isolamento e da ignorância.

Os inimigos da educação e da cultura são os inimigos da liberdade e do povo.

Nagib Anderáos Neto
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