Tuesday, November 16, 2010

Tempo Não é Dinheiro

A falta de tempo é um drama dos tempos modernos porque as pessoas vão deixando de pertencer a si mesmas transformando-se em escravas de compromissos diversos.
A velha máxima americana que diz que “Tempo é dinheiro” transformou-se num preconceito que dificulta a solução do problema da falta de tempo que aflige tantos seres humanos.
A realização do sonho da liberdade individual do ser humano deveria começar por aí: liberar-se da escravidão imposta por compromissos e pela má administração da vida.
Há muitos fatores que levam à perda de tempo; um é o principal: perde-se tempo quando não se pensa, quando se age mecânica e rotineiramente seguindo os pensamentos e idéias pensados por outras pessoas.
A função de pensar, entorpecida por preconceitos, crenças e idéias retrógradas, deve ser ativada em função de um grande objetivo que norteie a vida do ser humano nesta breve passagem pela Terra: evoluir e colaborar com os outros seres humanos neste sentido.
“O tempo é a essência oculta da vida”, escreveu certa vez o pensador González Pecotche; compreendê-lo e administrá-lo inteligentemente, livrando-se da tirania dos ponteiros do relógio, é uma tarefa cujos resultados são infinitamente superiores ao esforço empreendido.
Dizer que tempo é dinheiro é tão absurdo como imaginar que Deus seja um banqueiro.
A fuga do tempo existe para quem não consegue retê-lo e multiplicá-lo. Neste caso, os ponteiros do relógio representam uma tortura constante. Não há tempo suficiente para o cumprimento dos compromissos e obrigações. O tempo passa muito rápido e escraviza a pessoa que julga que ele seja dinheiro, e, como tal, sempre lhe falte.
Os dias que se sucedem monotonamente são noites mentais, pedaços de vida que se desprendem da pessoa deixando o saldo do vazio interior, a sensação de inutilidade, o esquecimento, o temor pela morte que caminha em sua direção a passos largos.
O tempo de vida do ser humano pode transcender a mensuração limitada das horas, dos dias e dos anos que se somam na trajetória definida entre o instante do nascimento e a transição para a morte. Esta ampliação do próprio tempo é uma conseqüência da ampliação da vida mental, a vida verdadeira do indivíduo. Nesta esfera, pode-se viver muito ou pouco, dependendo dos conhecimentos que se tenha.
Os tempos de evolução caracterizam-se pelo esforço continuado na busca do conhecimento e a conseqüente ampliação da consciência. Para aproveitar o tempo, conscientemente, é necessário aprender a pensar; a produzir soluções luminosas para os problemas individuais e coletivos que vive o homem de hoje.
Administrar bem o tempo significa acumulá-lo dentro de si; ser consciente daquilo que se viveu e ter um plano para a vida futura. Um domínio sobre si e um objetivo definido para a vida que se está vivendo; todos os atos e pensamentos imantados por um grande objetivo que abarque o aperfeiçoamento individual e coletivo da espécie humana. Significa encarar a vida como um grande campo experimental de aprendizado e realização.
Tempo é vida e pode ampliar-se indefinidamente independente do monótono movimento dos ponteiros do relógio.

Nagib Anderáos Neto
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Friday, November 12, 2010

Deus e a Consciência

Melhor que dar o peixe ou ensinar a pescar é ensinar a pensar. Mas antes de fazê-lo, será necessário aprendê-lo. Pensar é um ato de liberdade, um aprendizado espiritual que exige saber julgar-se, querer melhorar, sentir a necessidade de evoluir, realizar. E pensar no quê? Em Deus, em si mesmo e nos semelhantes, ensina González Pecotche, o pensador que dedicou sua vida ao culto da nobre função que as crenças e os preconceitos impedem realizar.
Deus se confunde com o homem, com todos os homens, sem nenhum privilégio ou intermediário. Está presente no templo interior que existe no coração de todos e que se chama consciência, a que deveria reger todos os atos humanos, o Deus interior, a bela adormecida que ali jaz prostrada sob as sombras do ceticismo, da ignorância, das crenças e dos preconceitos.
O homem nasceu para pensar e não apenas para trabalhar, se divertir e se conformar com a entristecida vida rotineira dos que imaginam que a felicidade se resume na posse de coisas que perdem o seu valor quando conquistadas.
O principio do processo de liberação espiritual pelo pensar resume-se no reconhecimento das próprias limitações e na identificação dos preconceitos e crenças que aprisionam a inteligência nas masmorras da ignorância. E a maior ignorância é ignorar-se, não se ver, desconhecer-se. Mesmo o mais letrado, o mais culto, pode ser um ausente de si, de sua consciência.
Mais do que o axiomático ”conhece-te a ti mesmo” do ilustre personagem mencionado por Platão em seus diálogos, sobressai-se o “tudo o que sei é que nada sei”, principio de todo o processo de liberação pelo pensar.
Se não me conheço, desconheço minha capacidade de criar. Se não sou um pequeno criador, não posso sentir e compreender o grande Criador.
Todo o ser humano pode ser um criador, mesmo não sendo artista, e compreender melhor o Grande Criador, o Deus único, tão distante do materializado homem moderno. E a maior obra de arte que um ser humano poderia realizar seria a de criar a sua pessoa tornando-se um indivíduo melhor, em constante aperfeiçoamento; essa sim seria a obra-prima, a maior obra de arte, a única que poderia merecer tal classificação.
Deus não está nas alturas, nos livros, nos templos ou nas desgraças; nem nas pestes ou doenças incuráveis. Ele não traz o tom pesado e vingativo; não pune, não castiga, não deprime; ensina, reconforta e traz esperança. Está num sorriso infantil, na emoção de uma descoberta, num instante de reflexão, na generosidade de quem ensina. Maior que tudo quanto existe, que o mesmo Universo, tem em cada coração um pequeno templo despojado do ouropel e da pompa, do ar pesado da intolerância e da incompreensão. Para penetrar em seu interior, muitas vezes inacessível à pretensão e à ignorância, é exigido que se desvencilhe da pesada carga de preconceitos, da incompreensão e dos defeitos que vêm dominando a mente humana, impedindo-lhe de contemplar a Verdade pela névoa da ignorância que tem cegado o seu entendimento.
Um homem afastado de si e dos semelhantes é desatento, distraído de Deus, inconsciente.

Nagib Anderáos Neto.

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