Thursday, December 16, 2010

Uma Fórmula de Felicidade

Quando pequenos, queremos crescer, e por acharmos que somos imortais, empurramo-nos como a areia que desce serena e decididamente na ampulheta em seus primeiros momentos. Os tempos da infância demoram a passar, assemelham-se à eternidade. Mais tarde, o tempo curva-se sobre nós e curvamo-nos à realidade, mas nossos sonhos e esperanças nos vão mantendo vivos, despertos, alegres, felizes e lutando. O espectro da morte passa ao largo, pois nosso entusiasmo é maior.

A adversidade - mestra rigorosa – muitas vezes quer subjugar-nos, mas vamos aprendendo a transformar as pedras em flores e agradecer a existência daqueles obstáculos que nos põem à prova à medida que vamos vivendo, caminhando, apreciando a viagem, o colorido dos dias ensolarados, o recolhimento nos dias chuvosos, não querendo chegar ao fim da estrada, pois algo nos impulsiona a viver mais e mais: um filho que vai chegar, um outro que está crescendo, o amor que quer sobreviver, a esperança de se tornar uma pessoa melhor, a vontade atávica de viver e ser feliz.

Qual o segredo, a mágica dominada por aqueles que trazem sempre um sorriso no rosto e o coração cheio de alegria? Há certos segredos que não vêm de magias, senão de conhecimentos, mágicas chaves que podem abrir as cerradas portas do entendimento.

A fórmula da felicidade pode ser simples ou não. Ninguém consegue se sentir feliz se não for capaz de reter na recordação os pequenos momentos de alegria que vai vivendo. Cada pequeno momento unido a outro vai formando um singelo e maravilhoso colar pessoal chamado felicidade. E , dependendo do adestramento de quem o fabrique, poderá se constituir num escudo protetor contra os de tristeza, desânimo e depressão.

A alegria é um estado pessoal expansivo. No momento em que se a experimenta, a vida se amplia e mal se consegue reter a energia que dela provem. O pessimismo, por outro lado, destrói ideais, subtrai energia e estreita a vida que não pode desmoronar por causa de uma contrariedade; é um pensamento negativo que torna as pessoas tristes e precisa ser combatido.

Todos buscam ser alegres e felizes. No entanto, a alegria é fugaz. Muitos acreditam ser a vida um vale de sofrimentos e penúrias. E essa crença é tão forte que ela se transforma num martírio interminável. Mesmo uma pessoa muito rica pode ser muito infeliz se sua inteligência é pobre e sua sensibilidade endurecida.

O jogo- do- contente, celebrizado pela famosa personagem de um conhecido romance juvenil, encarna uma realidade pouco compreendida pela maioria dos seres humanos: a felicidade é alcançável e sua conquista depende muito do empenho de quem a busque; poder-se-á encontrá-la profundezas do sentir, ali onde são registrados os episódios vividos de grata repercussão na vida. A gratidão traz felicidade; recordar a ajuda recebida ou a alegria vivida credencia a pessoa para futuros momentos de alegria e felicidade.

Para ser feliz é necessário querer do fundo do coração, e buscar a felicidade nos mínimos aconteceres, e registrá-los como num álbum de fotografias, para que não sejam esquecidos e possam substanciar dias futuros.

Inteligência e alegria deveriam andar de mãos dadas. Uma forma de felicidade é a boa convivência com as outras pessoas. Todo esforço neste sentido é um investimento moral cujo retorno é infinitamente superior ao esforço empreendido.

Nagib Anderáos Neto
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Friday, December 03, 2010

Monteiro Lobato : Um Construtor do Brasil

Nasci dois meses após a morte de Monteiro Lobato. Desde muito pequeno via-o todo esparramado nas prateleiras das estantes lá de casa, nos numerosos volumes daquela encantadora coleção de livros que eu usufruía mesmo antes de aprender a ler, através dos olhos e das vozes de meus pais que me transportavam para aquele maravilhoso mundo das Reinações de Narizinho, da Matemática da esperta Emília, do poço do petróleo do Visconde de Sabugosa, do carinho de tia Nastácia, da sabedoria da Vovó Benta, das aventuras de Pedrinho. Ali comecei a aprender História, Gramática, Mitologia, Aritmética e Geografia. E a desenvolver um raciocínio crítico através daquela inesquecível boneca de pano, a Emília. E, sobretudo, o gosto pela leitura que tantas alegrias me deu no transcorrer da vida, e também pelo da escritura.
No início da década de 50, adaptada por Tatiana Belinky e dirigida por Julio Gouveia na nascente televisão brasileira, a TV Tupi canal 3 apresentava a série o Sitio do Pica-Pau Amarelo. Naquele tempo, a televisão era realmente educativa. E minha admiração pela obra do grande escritor era tão grande que acabei sendo atraído para o Teatro Escola São Paulo, o Tesp, de Tatiana e Julio, e me tornando ator infantil, e sendo o Pedrinho daquele Sitio por três anos, no inicio da década de sessenta, seriado da TV Tupi. No ginásio do Santa Cruz não me chamavam por meu nome, senão por Pedrinho, tal era a minha identificação com a personagem.
O tio Candinho do Biotônico Fontoura patrocinou o seriado que atravessou a década de 50 e o início da de 60. Velho Amigo de Lobato, teve o grande mérito da iniciativa por difundir a grandiosa obra de literatura infantil no começo da televisão brasileira.
Lobato é um educador incomparável. Ajudou muito na formação de gerações de brasileiros. Difundiu exemplarmente a cultura, o humanismo, o nacionalismo. O Brasil deve muito a este espírito generoso e empreendedor.
É com um sentimento de profunda gratidão e emoção que elevo a minha voz contra a mediocridade da administração pública cultural do país que taxa de racista uma de suas principais obras. O obscurantismo moral, intelectual e espiritual que permeia o triste espetáculo de nossa política e administração pública não deixou de ser apontado no passado por Lobato, um grande brasileiro.
Sim, um país se faz com homens e livros, como muito bem foi dito. Infelizmente, nossa política cultural é orientada por pequenos homens inimigos do povo e dos livros, da cultura e da liberdade de pensar.
Já que o Lobato não está aqui para se defender, temos a obrigação de fazê-lo. Ele, sim, deveria ser nome de Faculdades, Fundações, ruas, avenidas, aeroportos, e não os políticos populistas, os ditadores implacáveis que estão sempre a conspirar contra o povo, os inimigos da cultura e da educação, apedeutas espirituais que ocupam os cargos públicos para beneficiar-se e a seus amigos e parentes.
Salve Lobato! Um grande brasileiro!
A cultura é nossa! Ela é mais importante que o petróleo!


Nagib Anderáos Neto
www.nagibanderaos.com.br

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