Friday, November 12, 2010

Deus e a Consciência

Melhor que dar o peixe ou ensinar a pescar é ensinar a pensar. Mas antes de fazê-lo, será necessário aprendê-lo. Pensar é um ato de liberdade, um aprendizado espiritual que exige saber julgar-se, querer melhorar, sentir a necessidade de evoluir, realizar. E pensar no quê? Em Deus, em si mesmo e nos semelhantes, ensina González Pecotche, o pensador que dedicou sua vida ao culto da nobre função que as crenças e os preconceitos impedem realizar.
Deus se confunde com o homem, com todos os homens, sem nenhum privilégio ou intermediário. Está presente no templo interior que existe no coração de todos e que se chama consciência, a que deveria reger todos os atos humanos, o Deus interior, a bela adormecida que ali jaz prostrada sob as sombras do ceticismo, da ignorância, das crenças e dos preconceitos.
O homem nasceu para pensar e não apenas para trabalhar, se divertir e se conformar com a entristecida vida rotineira dos que imaginam que a felicidade se resume na posse de coisas que perdem o seu valor quando conquistadas.
O principio do processo de liberação espiritual pelo pensar resume-se no reconhecimento das próprias limitações e na identificação dos preconceitos e crenças que aprisionam a inteligência nas masmorras da ignorância. E a maior ignorância é ignorar-se, não se ver, desconhecer-se. Mesmo o mais letrado, o mais culto, pode ser um ausente de si, de sua consciência.
Mais do que o axiomático ”conhece-te a ti mesmo” do ilustre personagem mencionado por Platão em seus diálogos, sobressai-se o “tudo o que sei é que nada sei”, principio de todo o processo de liberação pelo pensar.
Se não me conheço, desconheço minha capacidade de criar. Se não sou um pequeno criador, não posso sentir e compreender o grande Criador.
Todo o ser humano pode ser um criador, mesmo não sendo artista, e compreender melhor o Grande Criador, o Deus único, tão distante do materializado homem moderno. E a maior obra de arte que um ser humano poderia realizar seria a de criar a sua pessoa tornando-se um indivíduo melhor, em constante aperfeiçoamento; essa sim seria a obra-prima, a maior obra de arte, a única que poderia merecer tal classificação.
Deus não está nas alturas, nos livros, nos templos ou nas desgraças; nem nas pestes ou doenças incuráveis. Ele não traz o tom pesado e vingativo; não pune, não castiga, não deprime; ensina, reconforta e traz esperança. Está num sorriso infantil, na emoção de uma descoberta, num instante de reflexão, na generosidade de quem ensina. Maior que tudo quanto existe, que o mesmo Universo, tem em cada coração um pequeno templo despojado do ouropel e da pompa, do ar pesado da intolerância e da incompreensão. Para penetrar em seu interior, muitas vezes inacessível à pretensão e à ignorância, é exigido que se desvencilhe da pesada carga de preconceitos, da incompreensão e dos defeitos que vêm dominando a mente humana, impedindo-lhe de contemplar a Verdade pela névoa da ignorância que tem cegado o seu entendimento.
Um homem afastado de si e dos semelhantes é desatento, distraído de Deus, inconsciente.

Nagib Anderáos Neto.

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