Livros Para Homens Livres
Havia na estante a coleção completa do Tesouro da Juventude a me olhar desafiadoramente com o seu Livro dos Porquês e suas folhas cheirosas e brilhantes. E lá também o resumo de grandes obras literárias, iniciação juvenil, verdadeiras janelas abertas para o mundo. E Lobato, o mágico, com a Gramática da Emília, Reinações de Narizinho, Os Doze Trabalhos de Hércules e a mitologia ao alcance de todos. Havia a coleção arrumada das Seleções até o último exemplar do mês e O Pequeno Príncipe presenteado pelo professor de latim quando fiquei encarcerado no quarto por causa de uma hepatite devastadora.
Havia o rádio e os relógios decompostos que eu jamais fizera funcionar novamente. E Stefan Zweig falando de um país de um futuro que não chegava nunca sepultado entre Fouché, Maria Antonieta, Maria Stuart, Caleidoscópios e Calvino.
Havia Huberto Rohden com sua idealizada perspectiva de um cristianismo sem templos ou sacerdotes e o Goethe, naquela edição castelhana com suas páginas finíssimas – presente de papai num 6 de setembro inesquecível –, com o seu Werther eternamente à procura do amor impossível. E aquela série inumerável dos livros do mês que mamãe devorava avidamente na fuga da rotina: Cronin, Amado, Clarice, Balzac, Victor Hugo, Humberto de Campos, Guimarães Rosa, Bíblias desgastadas e o missal que eu nunca li. E havia os dicionários, ah! os dicionários, uma vida e uma solidão naquelas estantes multicoloridas e promissoras, cânone familiar e singelo, garimpos de cultura. Mas não havia ali a pessoa do Pessoa e nem a Emily Dickinson construtora de naturezas. Não havia ali as flores de Baudelaire e nem o sábio astrônomo de um americano chamado Walt Whitman ou o Emerson com a sua poesia filosófica ou canto telúrico de Neruda. E não havia ali o Borges com os seus espelhos e labirintos e nem o argentino González Pecotche com a sua Logosofia revolucionária e humana, construtora de culturas e de ideais.
Havia ali uma promessa, uma plenitude e um vazio; livros adormecidos, espaços a serem preenchidos, pensamentos e idéias enclausuradas em páginas comprimidas pelo esquecimento à espera do toque mágico da mão curiosa, do olhar atento e inquiridor do aprendiz que poderia libertá-los do silêncio e do sono e torná-los, redivivos, fachos luminosos nesses obscuros caminhos criados pelo homem moderno.
Havia ali livros. Livros feitos por homens e para homens livres.
Nagib Anderáos Neto
Havia o rádio e os relógios decompostos que eu jamais fizera funcionar novamente. E Stefan Zweig falando de um país de um futuro que não chegava nunca sepultado entre Fouché, Maria Antonieta, Maria Stuart, Caleidoscópios e Calvino.
Havia Huberto Rohden com sua idealizada perspectiva de um cristianismo sem templos ou sacerdotes e o Goethe, naquela edição castelhana com suas páginas finíssimas – presente de papai num 6 de setembro inesquecível –, com o seu Werther eternamente à procura do amor impossível. E aquela série inumerável dos livros do mês que mamãe devorava avidamente na fuga da rotina: Cronin, Amado, Clarice, Balzac, Victor Hugo, Humberto de Campos, Guimarães Rosa, Bíblias desgastadas e o missal que eu nunca li. E havia os dicionários, ah! os dicionários, uma vida e uma solidão naquelas estantes multicoloridas e promissoras, cânone familiar e singelo, garimpos de cultura. Mas não havia ali a pessoa do Pessoa e nem a Emily Dickinson construtora de naturezas. Não havia ali as flores de Baudelaire e nem o sábio astrônomo de um americano chamado Walt Whitman ou o Emerson com a sua poesia filosófica ou canto telúrico de Neruda. E não havia ali o Borges com os seus espelhos e labirintos e nem o argentino González Pecotche com a sua Logosofia revolucionária e humana, construtora de culturas e de ideais.
Havia ali uma promessa, uma plenitude e um vazio; livros adormecidos, espaços a serem preenchidos, pensamentos e idéias enclausuradas em páginas comprimidas pelo esquecimento à espera do toque mágico da mão curiosa, do olhar atento e inquiridor do aprendiz que poderia libertá-los do silêncio e do sono e torná-los, redivivos, fachos luminosos nesses obscuros caminhos criados pelo homem moderno.
Havia ali livros. Livros feitos por homens e para homens livres.
Nagib Anderáos Neto
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