Friday, October 01, 2010

Um Retrato da Impostura

A cultura contemporânea está baseada numa falsa liberdade política e na equivocada idéia de que o mercado tudo regula, como as relações humanas, econômicas e sociais. Um materialismo exacerbado afastou o homem de Deus e dos semelhantes. Ao entregar nas mãos de orientadores duvidosos a solução dos problemas que lhe incumbe, ele perdeu a oportunidade de pensar por própria conta que é um princípio de liberdade.

Dirigentes políticos e religiosos são impostos por grupos, partidos, associações e sindicatos que são dirigidos por pessoas que vêm o próprio interesse acima do comum. Egoísmo e incompetência campeiam as instituições diversas.

O mercado é regido por grandes empresas internacionais que, associadas aos governos, impõem produtos, preços e padrão de consumo. A grande mídia direciona os pensamentos das pessoas para comprar o que não necessitam, incrementando um crescimento econômico duvidoso que polui o ambiente, as mentes e os corações das pessoas previsíveis e influenciáveis que querem consumir cada vez mais coisas, informação inútil, imagens de violência e desgraça, distantes cada vez mais dos semelhantes e da Natureza.

Muitos psicólogos escrevendo textos sem sentido, como que o amor é um fenômeno irracional, que enamorar-se seria tornar-se anormal, cegar-se. Mentes confusas apontando para uma felicidade utópica apoiada no sexo, riqueza, ceticismo e acaso.

O amor existe como gérmen em todos os corações, mas sua prática exige certa inteligência, disciplina de vida, nada a ver com a rotina aborrecida de um trabalho diário repetido, sem renovação. O apressado homem moderno que imagina que o tempo seja dinheiro não sabe o que fazer com o que lhe sobra depois das correrias que acabam por afetar a sua saúde física e mental. Falta-lhe disciplina, concentração e paciência; ficar um pouco só, ativo na inteligência e no pensamento.

Dentre as diversas classificações às quais o homem pode ser submetido, existe o grupo dos que imaginam que tudo sabem e o dos que supõem que não sabem nada; ambas posições equivocadas. Mas no primeiro grupo há os que pretendem se aproveitar, enganar e submeter o segundo. São os impostores, os agentes da discórdia, os predicadores, ilusionistas, farsantes de antiga data que surgiram dentre os primeiros chefes de tribos primitivas e orientadores espirituais duvidosos. Com os impostores foi surgindo a grande impostura, o grande engano que levou o homem a olhar constantemente para fora, a materializar-se, submeter-se, fugir de si mesmo. Tornou-se um distraído; não se olha, não se enxerga e não se vê; um estranho em sua casa, pois lhe disseram que deveria ganhar o pão com o suor do rosto, divertir-se e nada mais.

É preciso refletir sobre o motivo pelo qual estamos aqui. Recorrer aos que pensaram e lutaram pela liberdade no passado, alguns entregando as suas vidas em sacrifício, espíritos dedicados e lúcidos que deixaram eloqüentes pegadas a serem seguidas.

Não há maior realização humana que aprender a pensar por conta própria, com liberdade. Muitas vezes será necessário recorrer a quem já tenha percorrido parte deste trajeto. A maior escravidão é a mental. O homem nasceu para ser livre e feliz, e a conquista dessa liberdade é mais importante que o pão de cada dia. A vida é curta; quanto mais passa o tempo, mais ele se comprime; não devemos desperdiçá-lo, mas aproveitá-lo, fazendo de cada dia uma vida inteira, onde cada minuto aproveitado se transforme em horas, dias e anos que possam nos ser úteis e a quem nos suceder. Pensar, pensar sempre, e caminhar muito, física, mental e espiritualmente falando, para que os que venham depois tenham muita alegria no coração, que é a maior dádiva que um ser humano possa experimentar.

Mais formoso que o Universo que nos rodeia é o que existe em nossos corações. A nós incumbe ampliá-lo para que possamos viver nele para sempre e sentir o hálito perpétuo da eternidade.

Nagib Anderáos Neto.

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