Friday, November 10, 2006

A Intolerância

Giordano Bruno - o pensador italiano que foi queimado vivo na Idade Média por ter defendido a idéia da infinitude do Universo e de sua transformação contínua - é um exemplo eloquente do obscurantismo e da intolerância daquela época quando todos deveriam prestar aceitação cega às “verdades” estabelecidas.
Algum tempo depois, Galileo Galilei (1564 - 1642) teve de abjurar para não ter o trágico fim do compatriota. Ele defendia a idéia, absurda para a época, de que a Terra não era o centro do Universo. Embora tendo escapado à morte, teve de conviver com uma prisão domiciliar até o final de seus dias.
Spinoza, como Sócrates, foi condenado pelo poder político local por opõe-se às idéias dos dirigentes, por não cultuar as suas personalidades e nem as divindades do Estado, por afirmar que a verdadeira salvação consistiria no conhecimento que é oposto ao fenomênico e sobrenatural que forjam as bases do ateísmo. Para ele, não poderia haver um Deus ou um conhecimento propriedades de algum agrupamento porque Deus e o conhecimento não são contingentes e nem privilégio de ninguém, por serem imanentes.
Estas páginas trágicas de nossa história servem para uma reflexão sobre a intolerância humana e suas conseqüências no nosso dia-a-dia, na nossa vida individual, pois ela continua tão presente como naqueles negros dias medievais.
Dentre os defeitos ou deficiências psicológicas do ser humano, a intolerância é a que mais dificulta a convivência. E esta dificuldade, a de conviver, é um grande obstáculo para a evolução humana que necessitará do concurso inestimável de seu semelhante na jornada de aperfeiçoamento que deverá empreender durante a sua vida; se não sabe conviver, terá a sua evolução limitada.
A intolerância implica falta de respeito às idéias alheias, inflexibilidade, dureza de juízo.
É difícil aceitar as idéias de outras pessoas quando não coincidem com as nossas; isto porque fomos educados nesta rigidez comportamental que nos impede compreender que podem existir idéias que difiram das nossas e os que as defendam não são, necessariamente, nossos inimigos.
A intolerância leva o ser humano a não admitir oposição. O intolerante vê no opositor um inimigo sem aperceber-se que a oposição pode ser construtiva, pois nos faz pensar, refletir sobre nossos pontos de vista e concluir, algumas vezes, que podemos estar errados. Os ditadores não admitem oposição. O opositor deve ser afastado, eliminado; só assim o ditador sente-se confortável.
Os que impõem, os impostores, estão aí, como naqueles negros dias medievais; nos governos, nas empresas, nas instituições diversas, nas mentes dos seres humanos, pensamentos retrógrados que nos encarceram numa rigidez milenar e que têm afastado o ser humano de si mesmo e de seus semelhantes. Surpreender esta realidade em si mesmo, na própria mente, e trabalhar para eliminar este tipo de pensamento é o único caminho capaz de livrar-nos deste obscurantismo medieval.
Educar as crianças no sentido da flexibilidade psicológica, desde que as idéias antagônicas não firam os princípios básicos da harmônica convivência humana, significa incutir no educando a tolerância que lhe permitirá respeitar o seu semelhante e ser respeitado.


NAGIB ANDERÁOS NETO
www.logosofia.org.br

0 Comments:

Post a Comment

<< Home