Bangladesh, Nova York e São Paulo
O táxi sairia da Lexington com a 48 às três horas. Muito frio para um 11 de Novembro de 2011. Estranha data (11/11/11).
Em 20 minutos, chegaríamos ao JFK em New York depois de uma semana de comprinhas com tudo por menos da metade do preço do que se paga neste rico Brasil dos impostos, da impostura e da corrupção. Dias frios, bons para caminhar para quem não gosta de táxi, metrô e aglomeração.
Nasci em Bangladesh, falou o taxista num inglês impecável. No meu país, que já foi Índia e Paquistão, o inglês é segunda língua, depois do bengali e de nossos 27 dialetos. No meu, retruquei, mal falamos o português, língua nacional.
Aprendi então um pouco mais sobre aquele longínquo país asiático do sul do continente, quase inteiramente rodeado pela Índia, com sua costa pantanosa e selvática cortado pelo Ganges, com mais de 2500 anos, influenciado pelo Hinduísmo, Jainismo, Budismo e Islã. Idioma oficial, o Bengali. População de 148.000.000, chegando perto da brasileira, mas com uma área 60 vezes menor, ou seja, um amontoado de gente, 877 habitantes por quilometro quadrado, enquanto aqui, apenas 22.
Depois veio o discurso dos BRICS e o elogio ao futebol do Brasil.
A vida aqui em Nova York é boa? Igual a qualquer outro lugar: acordar, trabalhar, trabalhar. E no outro dia, tudo sempre igual. A vida é apenas isso.
Recordei-me de Sísifo, o trágico herói mitológico que fora condenado pelos deuses a realizar um trabalho inútil e sem esperança por toda a eternidade: empurrar sem descanso uma enorme pedra até o alto de uma montanha de onde ela rolaria encosta abaixo para que o absurdo herói descesse em seguida até o sopé e empurrasse novamente o rochedo até o alto, indefinidamente, numa repetição monótona através dos tempos. O inferno de Sísifo é a trágica condenação de estar empregado em algo que a nada leva.
Não seríamos todos Sísifos ? Não estaríamos empenhados num grande esforço, uma luta e um sacrifício que poderiam não estar levando a nada como o sisifismo?
Talvez nosso trabalho seja uma condenação e a vida uma tragédia rotineira.
Para o homem existe a possibilidade de modificar a rotina tediosa e lançar ao longe o rochedo das misérias, da ignorância e inconsciência; deixar de repetir os dias, os anos e as vidas sem variação alguma para construir o próprio destino. Deixar de ser o que se é para ser uma pessoa melhor. A pedra de Sísifo tem hoje outros nomes.
A rotina não é boa, um sedentarismo mental. A mente, como o corpo, deve exercitar-se. Com a rotina vem a depressão, o vazio, a tristeza. Foge-se dela criando novas atividades. A vida deve ser renovação constante.
Fiquei a pensar que a Índia, com seus satélites, eterna colônia inglesa, não é melhor do que aqui, onde mal falamos o português, porque trabalhamos e nos divertimos um pouco, rimos de nossas misérias, desenganos, temos carnaval, futebol e telenovelas, maus governos, maus políticos; ainda nos sobra um pouco de esperança.
Táxi de madrugada é sempre bom, sem congestionamento, aeroportos vazios, e tempo para pensar e refletir.
Nada como voltar para casa.
Nagib Anderáos Neto
www.nagibanderaos.com.br
Em 20 minutos, chegaríamos ao JFK em New York depois de uma semana de comprinhas com tudo por menos da metade do preço do que se paga neste rico Brasil dos impostos, da impostura e da corrupção. Dias frios, bons para caminhar para quem não gosta de táxi, metrô e aglomeração.
Nasci em Bangladesh, falou o taxista num inglês impecável. No meu país, que já foi Índia e Paquistão, o inglês é segunda língua, depois do bengali e de nossos 27 dialetos. No meu, retruquei, mal falamos o português, língua nacional.
Aprendi então um pouco mais sobre aquele longínquo país asiático do sul do continente, quase inteiramente rodeado pela Índia, com sua costa pantanosa e selvática cortado pelo Ganges, com mais de 2500 anos, influenciado pelo Hinduísmo, Jainismo, Budismo e Islã. Idioma oficial, o Bengali. População de 148.000.000, chegando perto da brasileira, mas com uma área 60 vezes menor, ou seja, um amontoado de gente, 877 habitantes por quilometro quadrado, enquanto aqui, apenas 22.
Depois veio o discurso dos BRICS e o elogio ao futebol do Brasil.
A vida aqui em Nova York é boa? Igual a qualquer outro lugar: acordar, trabalhar, trabalhar. E no outro dia, tudo sempre igual. A vida é apenas isso.
Recordei-me de Sísifo, o trágico herói mitológico que fora condenado pelos deuses a realizar um trabalho inútil e sem esperança por toda a eternidade: empurrar sem descanso uma enorme pedra até o alto de uma montanha de onde ela rolaria encosta abaixo para que o absurdo herói descesse em seguida até o sopé e empurrasse novamente o rochedo até o alto, indefinidamente, numa repetição monótona através dos tempos. O inferno de Sísifo é a trágica condenação de estar empregado em algo que a nada leva.
Não seríamos todos Sísifos ? Não estaríamos empenhados num grande esforço, uma luta e um sacrifício que poderiam não estar levando a nada como o sisifismo?
Talvez nosso trabalho seja uma condenação e a vida uma tragédia rotineira.
Para o homem existe a possibilidade de modificar a rotina tediosa e lançar ao longe o rochedo das misérias, da ignorância e inconsciência; deixar de repetir os dias, os anos e as vidas sem variação alguma para construir o próprio destino. Deixar de ser o que se é para ser uma pessoa melhor. A pedra de Sísifo tem hoje outros nomes.
A rotina não é boa, um sedentarismo mental. A mente, como o corpo, deve exercitar-se. Com a rotina vem a depressão, o vazio, a tristeza. Foge-se dela criando novas atividades. A vida deve ser renovação constante.
Fiquei a pensar que a Índia, com seus satélites, eterna colônia inglesa, não é melhor do que aqui, onde mal falamos o português, porque trabalhamos e nos divertimos um pouco, rimos de nossas misérias, desenganos, temos carnaval, futebol e telenovelas, maus governos, maus políticos; ainda nos sobra um pouco de esperança.
Táxi de madrugada é sempre bom, sem congestionamento, aeroportos vazios, e tempo para pensar e refletir.
Nada como voltar para casa.
Nagib Anderáos Neto
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